Implementação em mais rodovias revela despreparo e descaso do Poder Público
Os novos modelos de pedágio sem cancela prometem modernidade e praticidade, mas escondem desafios e incertezas para os usuários das estradas. Uma "evolução" que suscita questionamentos e resistência. |
O que era para ser uma evolução na forma como lidamos com os pedágios, transformou-se em mais um capítulo de incompetência e desrespeito aos cidadãos. O tão propagandeado sistema free flow, também conhecido como pedágio sem cancela, está prestes a expandir sua influência para mais três importantes rodovias do estado de São Paulo, mas traz consigo um amargo sabor de desconfiança e descontentamento.
O Ministério dos Transportes, há cerca de um ano, introduziu no Brasil essa modalidade de cobrança de pedágio, alegando modernidade e eficiência. No entanto, o que se vê agora é um governo desesperado por uma bandeira positiva, custe o que custar, mesmo que isso signifique impor aos cidadãos um sistema falho e mal planejado.
Sob a promessa de praticidade, os veículos serão identificados por meio de suas placas ou de uma tag instalada no para-brisa, permitindo a cobrança posterior da tarifa. Parece simples, não é mesmo? Mas a realidade é bem diferente. Com a falta de transparência e a ausência de informações claras sobre as localizações exatas dos pórticos de identificação veicular, os usuários ficam à mercê de um sistema que parece mais preocupado em extrair dinheiro do que em facilitar a vida dos motoristas.
E o preço a ser pago por essa "facilidade" não é nada convidativo. As tarifas, determinadas com base na distância percorrida entre cada pórtico, variarão entre R$ 1,08 e R$ 6,29 a cada passagem, segundo a gestão do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos). Um verdadeiro assalto aos bolsos já tão combalidos dos cidadãos, que precisam lidar diariamente com o alto custo de vida e a falta de políticas públicas eficientes.
Para os usuários que possuem tags, como Sem Parar, ConectCar e Veloe, a cobrança será automática, integrada à fatura mensal do serviço. Mas e aqueles que não têm essa opção? Serão obrigados a acessar um site da concessionária, utilizando um sistema que sequer foi implementado de forma adequada. O caos e a confusão são iminentes, enquanto o governo tenta passar a impressão de que está tudo sob controle.
Além disso, a implementação desse sistema afetará diretamente a vida de milhares de cidadãos que residem ao longo das três rodovias paulistas que serão afetadas pelo pedágio free flow. Municípios como Arujá, Itaquaquecetuba, Mogi das Cruzes, Bertioga, Santos, Praia Grande, Mongaguá, Itanhaém, Peruíbe, Itariri, Pedro de Toledo e Miracatu serão impactados negativamente por essa medida, sem que haja uma consulta prévia ou um diálogo efetivo com as comunidades afetadas.
O consórcio Novo Litoral, liderado pela CBI (Companhia Brasileira de Infraestrutura), saiu vencedor do leilão para a concessão das rodovias, garantindo um contrato de 30 anos e prometendo investimentos de cerca de R$ 4,3 bilhões. Mas será que esses investimentos serão suficientes para mitigar os prejuízos causados por mais essa medida desastrosa?
Enquanto o governo se orgulha de sua "modernização" das estradas, os usuários enfrentam um mar de incertezas e reclamações. O Procon-RJ, por exemplo, já enviou uma notificação à concessionária responsável pela operação do pedágio na Rodovia Rio-Santos (BR-101), devido ao alto número de reclamações. E a Justiça Federal teve que intervir, suspendendo temporariamente a cobrança de multas por evasão de pedágio enquanto o sistema está em fase de testes.
Diante de tanto descaso e desrespeito, cabe aos cidadãos questionar e resistir. Contestar multas e exigir transparência e responsabilidade por parte das autoridades responsáveis. Não podemos nos calar diante de mais essa tentativa de nos tolher de nossos direitos e de nos explorar em nome de supostas melhorias. É hora de agir e mostrar que não aceitaremos ser tratados como meros peões nesse jogo político de interesses escusos. O Brasil merece mais do que isso. E nós também.
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