Marido de paciente de 33 anos relata falhas na identificação e contenção de hemorragia pós-parto; hospital afirma ter seguido protocolos e investiga o caso
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Fachada do Complexo Hospitalar dos Estivadores, em Santos (SP), onde Amanda Porfírio da Silva esteve internada e veio a óbito após complicações de uma cesárea. Foto: Prefeitura de Santos/Arquivo. |
A morte de Amanda Porfírio da Silva, de 33 anos, ocorrida em 24 de abril de 2025, dias após ser submetida a uma cesariana no Complexo Hospitalar dos Estivadores, em Santos, tornou-se alvo de investigação policial. O marido da paciente, Thiago Rodrigo, formalizou denúncia alegando negligência médica, apontando uma série de eventos que, segundo ele, culminaram no trágico desfecho.
De acordo com o relato de Thiago, Amanda deu entrada na unidade hospitalar em 12 de abril, com 39 semanas de gestação e boas condições de saúde, para a realização do parto. A Secretaria de Segurança Pública (SSP) confirmou que, embora a gestante tivesse solicitado uma cesariana, inicialmente foi submetida a um procedimento de indução ao parto normal. A cirurgia cesariana só foi realizada no dia seguinte, 13 de abril.
O ponto central da denúncia do marido reside no pós-operatório imediato. Thiago afirma que sua esposa apresentou uma grave hemorragia que não teria sido detectada pela equipe médica responsável. "Entrou andando, normal, com o pré-natal todo direitinho. Fecharam a barriga dela e não viram que ela estava com hemorragia. Quando descobriram que ela estava com hemorragia, já tinha se passado 24 horas", declarou o viúvo.
Após a identificação tardia da perda sanguínea, conforme a narrativa de Thiago, Amanda foi novamente encaminhada ao centro cirúrgico para uma intervenção de emergência. Contudo, ele sustenta que, nesse primeiro procedimento exploratório, a origem do sangramento não foi localizada. "Ela subiu para a UTI, já entubada, com o pulmão parado e com a barriga aberta. No outro dia, só levaram para o centro cirúrgico de novo para ver onde estava o sangramento", relembra.
Thiago detalha que apenas em uma terceira abordagem cirúrgica, após a retirada de compressas aplicadas anteriormente, a fonte da hemorragia foi encontrada. Durante o período crítico, Amanda necessitou de múltiplas transfusões, recebendo o equivalente a sete bolsas de sangue. No entanto, seu quadro clínico deteriorou-se progressivamente. O marido relata que os pulmões da paciente apresentaram complicações severas, passando a depender integralmente de ventilação mecânica.
Amanda Porfírio da Silva permaneceu dez dias internada na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), entubada. Durante esse período de angústia, Thiago buscou ativamente informações e alternativas. Ele conta ter solicitado acesso ao prontuário médico para obter uma segunda opinião de outros especialistas, pedido que, segundo ele, foi negado pela instituição hospitalar. "Pedi o prontuário para uma segunda opinião de algum médico, e o hospital negou o prontuário. Pedi para falar com pneumologistas e não levaram a sério", lamenta. Ele também expressou insatisfação com os boletins médicos fornecidos, que considerou insuficientes para esclarecer suas dúvidas sobre a real condição e prognóstico da esposa.
O falecimento de Amanda foi confirmado em 24 de abril. Ela deixa o marido e dois filhos.
Posicionamento do Hospital
Procurado, o Instituto Social Hospital Alemão Oswaldo Cruz, organização responsável pela gestão do Complexo Hospitalar dos Estivadores, emitiu uma nota oficial lamentando profundamente o ocorrido. A administração hospitalar assegurou que o atendimento prestado a Amanda Porfírio da Silva, entre os dias 12 e 24 de abril de 2025, foi "integral, de acordo com as melhores práticas, com o empenho de equipes especializadas e de recursos necessários".
A nota enfatiza ainda que os familiares receberam "informações irrestritas durante todo período" e que a instituição se solidariza com a dor da família. O hospital informou também que todos os óbitos ocorridos em suas dependências são sistematicamente investigados pela Comissão de Óbito interna. No caso específico de óbito materno, como o de Amanda, o procedimento inclui, adicionalmente, uma avaliação externa realizada por autoridades sanitárias competentes. "O Hospital segue à disposição dos familiares para quaisquer outros esclarecimentos", conclui o comunicado.
Investigação Policial
A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) informou que o caso foi registrado como "morte suspeita (não criminal)" no 4º Distrito Policial de Santos. A delegacia responsável instaurou um inquérito policial para apurar todas as circunstâncias que envolveram a internação, o tratamento e o óbito de Amanda Porfírio da Silva. As investigações buscarão determinar se houve, de fato, alguma falha ou negligência por parte da equipe médica ou da instituição hospitalar.
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