Ao procurar a GCM alegando ter sido espancado pela companheira, sujeito é surpreendido com sua própria ficha: havia um mandado de prisão contra ele
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Guarda Civil Municipal de Santos conduz homem ferido após descoberta de mandado de prisão: de vítima a detento em poucos minutos. Foto: Prefeitura de Santos/Divulgação. |
Era para ser uma noite de redenção, ou ao menos de alívio, para um homem que, alegando estar ferido e acuado, buscou abrigo nas forças da lei. Mas o destino, esse roteirista sarcástico da vida real, reservou-lhe um enredo digno de tragicomédia urbana: ao fugir de marteladas desferidas pela própria companheira, o sujeito acabou esbarrando na dura realidade de seus próprios pecados — e em um mandado de prisão há meses à sua espera.
Tudo aconteceu por volta das 19h30 da última quarta-feira (28), nas redondezas do bairro Vila Nova, em Santos. A equipe da Romu Oswaldo Justo — a temida Ronda Ostensiva da Guarda Civil Municipal — acabava de chegar à base quando foi surpreendida por um homem visivelmente alterado, ferido e, aparentemente, desesperado.
"Fui agredido com um martelo! Ela quase me matou!", teria dito, segundo relato dos agentes, referindo-se à companheira com quem havia tido uma briga. Uma alegação grave, um pedido legítimo de socorro, um caso de violência doméstica? Sim... mas apenas em parte.
Com profissionalismo, os guardas prestaram os primeiros socorros e coletaram as informações básicas. O procedimento padrão incluiu a consulta ao sistema de dados criminais. Foi quando a história tomou um novo rumo.
Ficha corrida, corrida interrompida
Enquanto ainda se preocupavam com a extensão das lesões causadas pelas supostas marteladas, os agentes descobriram que o homem era procurado pela Justiça. Havia um mandado de prisão expedido em 11 de novembro de 2024 — por furto. Detalhe: não foi divulgado o que ele havia furtado, mas, considerando o desfecho da história, é possível imaginar que tenha sido algo menos pesado que o martelo da companheira.
Imediatamente, a prioridade passou a ser, além do atendimento a "vítima", a custódia do "foragido". O que era uma ocorrência de socorro virou operação de captura. Antes de ser levado ao xilindró, no entanto, o homem foi conduzido à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Central, onde recebeu os cuidados médicos necessários — afinal, martelada não é figura de linguagem.
Da UPA à CPJ, sem escalas para a liberdade
Com o diagnóstico clínico garantido e o curativo feito, o destino final foi a Central de Polícia Judiciária de Santos. Lá, o delegado de plantão não titubeou: ratificou a voz de prisão, seguindo o mandado judicial, e determinou que o agora ex-paciente passasse a se chamar, oficialmente, detento.
O que era para ser um caso de violência doméstica virou um desfecho kafkiano. O agredido virou agressor da ordem, e o martelo da companheira foi apenas o primeiro capítulo de uma noite martelada pelo próprio passado do sujeito. A lei, como se sabe, tem memória longa — e sistema eletrônico eficiente.
Entre a bigorna da Justiça e o martelo do lar
Se há algo a extrair da bizarrice do episódio, talvez seja o lembrete amargo de que o passado cobra, e às vezes escolhe os momentos mais inoportunos para isso. Nem sempre quem pede socorro é inocente, e nem sempre quem foge do martelo escapa da marreta da Justiça.
O caso segue sendo apurado, mas a GCM já cumpriu sua parte: acolheu, cuidou e, no fim, prendeu. Quanto à companheira e às possíveis medidas legais sobre a agressão, até o fechamento desta reportagem, nenhuma informação adicional havia sido divulgada pela autoridade policial. O que se sabe é que, na queda de braço entre o passado criminal e a tentativa de virar o jogo, o sujeito em questão foi nocauteado... por si mesmo.
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