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Sob o manto da tarja preta: Zolpidem e a (In)suficiência do controle estatal

 Um retrato da falência regulatória e da crescente medicalização da insônia no Brasil

A tarja preta do zolpidem: um alerta sobre a medicalização da insônia e a fragilidade do controle estatal.

A recente decisão da Anvisa de aumentar o controle sobre o medicamento Zolpidem, tornando obrigatória a prescrição por meio da Notificação de Receita B (azul), escancara a fragilidade do sistema regulatório brasileiro e a crescente dependência da população em relação a medicamentos para lidar com a insônia. A medida, justificada pelo aumento de relatos de uso irregular e abusivo da substância, levanta questões cruciais sobre a efetividade das políticas públicas de saúde e a medicalização desenfreada de problemas sociais.

A tarja preta, símbolo máximo de controle e alerta, agora estampa as embalagens de zolpidem, um hipnótico amplamente prescrito para o tratamento da insônia. A mudança, em tese, visa coibir o uso indiscriminado e os riscos associados ao medicamento, como dependência e abuso. No entanto, a medida se revela insuficiente e tardia, expondo a incapacidade do Estado em lidar com a complexidade do problema.

A insônia, um mal que assola milhões de brasileiros, é frequentemente tratada como um distúrbio isolado, desconsiderando suas raízes sociais e psicológicas. A medicalização da insônia, por meio da prescrição de medicamentos como o Zolpidem, mascara a verdadeira natureza do problema e perpetua um ciclo vicioso de dependência química.

A decisão da Anvisa, embora bem-intencionada, ignora a necessidade de abordar a insônia de forma holística, considerando seus múltiplos fatores e oferecendo alternativas terapêuticas não farmacológicas. A ênfase no controle e na restrição do acesso ao Zolpidem negligencia a importância de investir em políticas públicas de promoção da saúde mental e do bem-estar da população.

Além disso, a medida levanta questionamentos sobre a efetividade do controle de medicamentos no Brasil. A exigência da receita azul, embora represente um obstáculo adicional para a obtenção do Zolpidem, não garante a erradicação do uso irregular e abusivo da substância. O mercado negro e a automedicação, alimentados pela falta de acesso a tratamentos adequados e pela cultura da medicalização, continuam a prosperar.

A tarja preta do zolpidem, portanto, revela não apenas os perigos do medicamento, mas também a falência do sistema regulatório e a necessidade urgente de repensar as políticas públicas de saúde no Brasil. A insônia, um problema complexo e multifacetado, exige soluções que vão além da mera restrição do acesso a medicamentos.

É preciso investir em prevenção, educação e tratamento integral, quebrando o ciclo vicioso da medicalização e promovendo a saúde mental da população.



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