Incidente repugnante durante aula expõe chaga do racismo estrutural no ambiente educacional e levanta questionamentos sobre despreparo docente e fiscalização
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Escola Estadual Professor Jon Teodoresco, palco do repugnante incidente de racismo que chocou Itanhaém. Foto: Reprodução/Redes Sociais. |
Uma sala de aula da Escola Estadual Professor Jon Teodoresco, em Itanhaém, transformou-se em palco de um episódio abjeto de racismo na última segunda-feira (10). Um professor de Química, em um ato de inacreditável insensibilidade e crueldade, comparou um aluno adolescente a um sagui, primata conhecido popularmente como macaco, desencadeando uma onda de indignação e revolta na comunidade escolar e além. A irmã do estudante, revoltada com a humilhação imposta ao irmão de apenas 16 anos, formalizou um boletim de ocorrência por injúria contra o docente, deflagrando uma investigação policial que promete lançar luz sobre as entranhas sombrias do preconceito racial no ambiente educacional.
Segundo o relato contido no boletim de ocorrência, o fatídico incidente ocorreu durante uma aula de Química, quando um sagui adentrou a sala. Em vez de lidar com a situação com profissionalismo e respeito, o professor, cuja identidade não foi revelada pelas autoridades até o momento, proferiu palavras que destilam o mais puro veneno racista. Dirigindo-se ao aluno, o docente teria ordenado que ele desviasse o olhar do animal, sob a alegação grotesca de que o sagui poderia "confundi-lo com um membro da família". A sordidez da comparação, que equipara o estudante negro a um animal, ecoou na sala de aula como um tapa na face da dignidade humana, deixando o adolescente em estado de choque e profundo constrangimento.
Não satisfeito com a injúria inicial, o professor, em um ataque de generalização abjeta, teria estendido a comparação depreciativa a toda a classe, afirmando que "a sala toda era um macaco". A fala, carregada de desprezo e preconceito, revela um nível alarmante de despreparo e insensibilidade por parte do educador, que deveria ser um agente de formação e respeito, e não um propagador de ódio e discriminação.
O impacto emocional da agressão racista foi devastador para o jovem estudante, que buscou amparo e consolo na família. Abalados com o relato do filho, os pais do adolescente procuraram a direção da escola, na vã esperança de que a instituição tomasse medidas enérgicas e imediatas para coibir a conduta abjeta do professor. Entretanto, a resposta da escola, ao se limitar a registrar uma "ficha de ocorrência", soa como um paliativo burocrático e insuficiente diante da gravidade da situação. A omissão da escola em adotar medidas disciplinares concretas e urgentes levanta sérios questionamentos sobre a postura da instituição diante de casos de racismo e sobre o real comprometimento com a proteção e o bem-estar de seus alunos.
A Secretaria da Educação do Estado de São Paulo (Seduc-SP), em nota oficial, manifestou um repúdio protocolar a "qualquer tipo de discriminação". A declaração, embora esperada, soa vazia e desprovida de substância diante da inação da pasta em casos semelhantes e da persistência do racismo no ambiente escolar. A Seduc-SP anunciou a abertura de uma "apuração" para "avaliar a conduta do docente", prometendo "sanções administrativas" caso a acusação seja confirmada. Contudo, a lentidão e a burocracia dos processos administrativos frequentemente resultam em punições brandas e tardias, que não condizem com a gravidade dos atos racistas e não servem como dissuasão eficaz para outros casos.
A Seduc-SP também acenou com a intensificação de "projetos para fortalecer a convivência pacífica, o respeito e o combate ao bullying e racismo", e colocou um "psicólogo do Programa Psicólogos nas Escolas" à disposição do aluno. Embora iniciativas como essas sejam importantes, elas se mostram insuficientes para erradicar o racismo estrutural que permeia a sociedade brasileira e que se manifesta de forma virulenta no ambiente escolar. É preciso mais do que projetos e psicólogos: é fundamental uma mudança profunda na mentalidade da sociedade, que passa pela educação antirracista desde a base, pela formação continuada de docentes e pela fiscalização rigorosa e punição exemplar de atos racistas.
O caso da Escola Estadual Professor Jon Teodoresco não é um caso isolado, mas sim um sintoma de uma chaga social que precisa ser extirpada com urgência. A naturalização do racismo, a impunidade e a leniência das instituições perpetuam um ciclo vicioso de violência e discriminação que ceifa a dignidade e o futuro de milhares de jovens negros no Brasil. É imperativo que a sociedade brasileira, a começar pelas autoridades educacionais, encare o racismo de frente, com coragem e determinação, e adote medidas concretas e eficazes para combater essa mazela que envergonha o país e impede a construção de uma sociedade justa e igualitária. A investigação policial em curso e a "apuração" da Seduc-SP são apenas o primeiro passo de um longo e árduo caminho rumo à erradicação do racismo no ambiente escolar e na sociedade como um todo.
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