Revogação de mandado de prisão e reativação de redes sociais expõem fragilidades do sistema e reacendem a indignação pública diante da violência contra vulneráveis
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Richard Henrique Julião, motorista do Porsche que agrediu idoso em Praia Grande, aparece em postagem no Rio de Janeiro após ter mandado de prisão revogado. Foto: Reprodução/Redes Sociais. |
A novela sombria que envolve a agressão covarde perpetrada por um jovem motorista de Porsche contra um idoso de 78 anos em Praia Grande, litoral paulista, ganhou um novo e perturbador capítulo neste sábado (15). Richard Henrique Julião, de 21 anos, que protagonizou cenas de barbárie em fevereiro, espancando Argemiro Soares da Silva, de 78 anos, após uma reclamação sobre o barulho ensurdecedor de seu carro de luxo, não é mais considerado foragido pela Justiça. A informação, confirmada por fontes oficiais, revela que o mandado de prisão temporária expedido contra o agressor foi inexplicavelmente revogado no dia 7 de março.
A revogação da ordem judicial permitiu que Julião, outrora procurado pelas autoridades e pela opinião pública estarrecida com a violência do ato, reativasse suas redes sociais. Em um gesto que soa como um escárnio à vítima e à sociedade, o motorista do Porsche Cayman publicou registros de uma viagem a Copacabana, no Rio de Janeiro, exibindo uma aparente despreocupação com as consequências de seus atos.
Durante os 22 dias em que pairou sobre sua cabeça o status de foragido, a defesa de Julião alegou que o jovem se manteve escondido por temer um linchamento. Uma justificativa que, embora compreensível em um contexto de revolta popular, não atenua a gravidade da agressão e levanta questionamentos sobre a efetividade das medidas legais em casos de violência extrema.
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Argemiro Soares da Silva, 78 anos, caído ao solo após ser brutalmente agredido em Praia Grande, cena que chocou o país e expôs a violência contra a pessoa idosa. Foto: Reprodução/Redes Sociais. |
Apesar das postagens recentes que o localizam na orla carioca, o advogado de defesa insiste que as imagens são antigas e que seu cliente não se encontra no Rio de Janeiro. A localização exata do motorista do Porsche permanece um mistério, embora a defesa tenha reiterado a intenção de apresentá-lo à Delegacia de Investigações Gerais (DIG) de Praia Grande ainda neste mês para prestar depoimento. A ausência de uma data específica para essa apresentação, contudo, alimenta a desconfiança e a sensação de impunidade que paira sobre o caso.
Relembremos os fatos que culminaram nessa reviravolta judicial. No dia 12 de fevereiro, Argemiro Soares da Silva, um senhor de 78 anos, ousou confrontar o barulho incessante do Porsche de Julião, que perturbava o sossego dos moradores de um edifício no bairro Guilhermina. A reação do jovem foi brutal e desproporcional: espancou o idoso, demonstrando uma agressividade fria e calculada. Uma moradora, munida de um celular, registrou a barbárie, na tentativa inicial de identificar a placa do veículo. Após a agressão, Julião evadiu-se para São Paulo, desencadeando a emissão do mandado de prisão temporária no dia seguinte.
Antes de desativar seu perfil nas redes sociais, o agressor chegou a debochar do crime, expondo uma completa falta de remorso e empatia pela vítima. Essa atitude, somada à violência do espancamento, inflamou a indignação da população e da mídia.
O Porsche Cayman utilizado na agressão, registrado em nome de um empresário de Minas Gerais, foi apreendido dois dias após o ocorrido, estacionado na garagem de um prédio na capital paulista. Inicialmente registrado como lesão corporal e ameaça, o caso teve sua tipificação alterada pela Polícia Civil para tentativa de homicídio, diante do histórico agressivo de Richard Henrique Julião. O prontuário do agressor revela um passado turbulento, com denúncias por estelionato, lavagem de dinheiro, associação criminosa e agressões contra a própria avó e uma ex-namorada grávida.
Agora, resta saber se o Ministério Público do Estado de São Paulo (MP-SP) acatará o pedido da Polícia Civil e levará Richard Henrique Julião a júri popular. A defesa, por sua vez, já sinalizou que tentará reverter a tipificação do crime.
Enquanto a Justiça segue seus trâmites, a liberdade do agressor e sua ostentação nas redes sociais representam um duro golpe para a vítima, seus familiares e para todos aqueles que clamam por justiça e pelo fim da violência contra os mais vulneráveis. A sensação amarga que paira é a de que, mais uma vez, a impunidade pode prevalecer, deixando uma cicatriz profunda na sociedade.
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