Thales Ferri Schoedl, exonerado do cargo após homicídio, enfrentará a Justiça comum após 20 anos do crime que chocou a Baixada Santista
Thales Ferri Schoedl: da impunidade à justiça popular. Após duas décadas, o ex-promotor enfrentará o veredito do povo pela tragédia que chocou o litoral de São Paulo. |
Em uma reviravolta marcante que sacode os alicerces da justiça brasileira, o ex-promotor Thales Ferri Schoedl, envolvido no assassinato de um jovem e na tentativa de homicídio de outro em um trágico episódio à beira-mar, terá sua absurda absolvição anulada. O caso, que remonta ao fatídico ano de 2004, quando Schoedl desferiu tiros contra dois jovens na Praia da Riviera de São Lourenço, em Bertioga, ganha um novo capítulo. O ex-promotor, outrora blindado pelo manto da impunidade, agora enfrentará o escrutínio de um júri popular, após duas décadas de batalha legal e um indescritível sofrimento para as famílias das vítimas.
A decisão, confirmada por este veículo de comunicação, nesta quinta-feira (8), representa um golpe na história manchada de impunidade de Schoedl. Após ser preso em flagrante por disparar sua arma letal contra dois jovens, deixando um morto e outro gravemente ferido, o ex-promotor tentou se escudar sob a frágil cortina da legítima defesa. Contudo, sua versão dos fatos não convenceu as autoridades nem os olhos da Justiça.
A narrativa apresentada pelo ex-promotor de que teria agido em legítima defesa desmoronou diante das evidências e testemunhos que emergiram do processo. Na fatídica noite de 30 de dezembro de 2004, Schoedl, munido de uma pistola Taurus, calibre 380, desferiu disparos letais contra os jovens Felipe Cunha de Souza e Diego Mendes Mondanez. Enquanto Souza sobreviveu aos ferimentos, Mondanez sucumbiu após ser socorrido, deixando um vácuo de dor e indignação nas famílias e na comunidade.
A teia de impunidade que envolveu Schoedl começou a se desfazer quando sua aura de privilégio foi dissipada pelo justo clamor por justiça. Em 2008, o então promotor teve o privilégio de ser julgado por seus pares no Órgão Especial do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (TJ-SP), que, para espanto de muitos, o absolveu por unanimidade. Porém, a roda da justiça começou a girar, impulsionada pela resistência das famílias das vítimas e pela incansável luta pela responsabilização do autor.
Em um golpe de luz no fim do túnel da impunidade, o ex-promotor foi exonerado de seu cargo em 2018, após uma determinação corajosa do ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF), acatando a decisão do Conselho Nacional do Ministério Público (MP). A exoneração foi o primeiro passo para despojar Schoedl de seu escudo de privilégio e levá-lo à esfera da Justiça comum.
A batalha pela justiça, que parecia ser uma quimera diante das barreiras institucionais e do poderio político do ex-promotor, finalmente encontrou um novo fôlego. Com a perda do foro especial, a anulação da absurda absolvição e a exoneração do cargo que o protegia, Thales Ferri Schoedl será julgado pelo povo, no dia 3 de junho, duas décadas após o crime que abalou as estruturas morais da Baixada Santista.
Enquanto a defesa de Schoedl insiste em sua inocência, a voz das vítimas e de seus familiares clama por justiça. Em nota, os advogados do ex-promotor enfatizaram que Schoedl foi absolvido em 2008 sob o argumento da legítima defesa, negando que o veredito tenha sido influenciado pelo cargo que ele ocupava à época. Contudo, para aqueles que testemunharam o sofrimento das famílias das vítimas, a busca por justiça transcende qualquer prerrogativa de cargo ou influência.
Enquanto o ex-promotor, agora advogado, escritor e professor, aguarda o desfecho de seu destino nas mãos do Tribunal do Júri, as famílias das vítimas encontram um alento na esperança de que a justiça seja finalmente feita. O pai de Felipe Cunha de Souza, Wilson Pereira Souza, expressou um misto de exaustão e dever cumprido na busca por justiça, ressaltando que a verdade estava do lado das vítimas desde o princípio. Em suas palavras, "esse cidadão, Thales Ferri Schoedl, merecia e merece ser penalizado", ecoando o clamor por justiça que ecoa há duas décadas.
Assim, enquanto o destino de Schoedl é agora traçado pelo veredito do povo, a história deste caso sinaliza um momento crucial na luta pela justiça e pela responsabilização daqueles que ousam violar a lei sob o manto da impunidade. Que este julgamento não apenas faça justiça às vítimas, mas também sirva como um lembrete contundente de que ninguém está acima da lei, não importa quão alto seja o cargo que ocupem.
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