Relacionamento de quatro anos termina em tragédia, expondo mais um caso brutal de feminicídio em uma madrugada sangrenta na Baixada Santista
Cena do crime em Guarujá, onde a jovem Milena Oliveira dos Santos foi brutalmente assassinada, evidenciando mais um doloroso caso de feminicídio na região da Baixada Santista. |
Na madrugada de segnda-feira (28) no bairro Jardim Mar e Céu, em Guarujá, uma cena macabra estampava mais uma vez as páginas policiais da Baixada Santista. Liozélio Alves da Costa, de 34 anos, confessou ter matado sua esposa, Milena Oliveira dos Santos, de apenas 26 anos, com ao menos 19 golpes de faca, após uma violenta discussão que teve como combustível o consumo excessivo de álcool e cocaína. Sem exitar, o homem deixou o corpo ensanguentado da esposa no quarto e fugiu, buscando abrigo na casa de uma irmã, de onde finalmente resolveu se entregar às autoridades.
Segundo o boletim de ocorrência, a sequência trágica começou na noite de domingo (27), quando o casal almoçou na casa da mãe de Liozélio, retornando depois para sua residência. Ao anoitecer, Liozélio, aparentemente, não resistiu ao chamado de seus próprios demônios, mergulhando mais uma vez no álcool e na cocaína. Quando Milena questionou seu comportamento – chamando-o de “drogado” e “incontrolável” – o que poderia ser apenas mais uma discussão entre quatro paredes se transformou em um banho de sangue. Segundo o relato do acusado, a esposa subiu ao quarto, e ele, armado com uma faca, a seguiu, num ato final de violência que acabou sendo fatal.
Liozélio admitiu que o relacionamento com Milena, que já durava quatro anos, era marcado por discussões frequentes e reconciliações intermitentes, num ciclo aparentemente sem fim de idas e voltas. No dia 24 de setembro, Milena chegou a sair de casa após uma briga, mas retornou dias depois, supostamente para ajudar Liozélio a lidar com sua luta contra as drogas e o álcool. O relato dele à polícia desenha um cenário de promessas quebradas e ajuda não correspondida, em que a vítima buscou, sem sucesso, evitar que o pior acontecesse. Milena chegou a pegar atestado no trabalho para cuidar do companheiro, num último gesto de empatia que culminaria em sua própria morte.
Na madrugada de segunda-feira (28), a Polícia Militar chegou ao endereço na Rua Soldado André Fernandes Júnior, onde encontrou o corpo de Milena já sem vida, em um cômodo no andar superior da residência. Segundo informações do laudo preliminar da perícia, foram registrados ao menos 19 golpes desferidos contra a jovem, sendo 11 deles nas costas – uma contagem implacável que revela a intensidade da violência. Havia ainda ferimentos na mão direita, possivelmente um último e desesperado esforço para se defender. Com o rosto e o torso também atingidos, a cena era tão desoladora quanto irrefutável: mais uma mulher tombada no altar trágico da violência doméstica.
Liozélio, que fugiu sem acionar socorro, foi encaminhado à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da Enseada, mas não apresentava lesões aparentes. Na sequência, foi levado para a Delegacia Sede de Guarujá, onde permaneceu à disposição da justiça, agora sob a acusação de feminicídio, crime tipificado pela legislação brasileira em casos onde há um motivo de gênero para o assassinato.
O caso trouxe à tona um padrão que, tragicamente, se repete. Em depoimento, Liozélio disse que “não se lembra” quantas vezes golpeou a esposa, mas não se furtou de confessar o crime. Em sua narrativa, tentou justificar o ato violento, alegando que Milena, ao ver a faca em suas mãos, “não recuou”. Se há aqui alguma tentativa de romantizar a tragédia ou de escorar-se em uma alegada “luta” entre ambos, os fatos falam mais alto que as palavras – e revelam um quadro de horror previsível para a vítima, que provavelmente conhecia bem a personalidade do agressor, mas ainda assim optou por não abandoná-lo.
O delegado do caso já representou pela conversão da prisão em flagrante para preventiva, e Liozélio aguarda agora o trâmite judicial que definirá seu destino. Para Milena, no entanto, o veredito já foi dado naquela fatídica madrugada. Mais uma vida ceifada pela violência doméstica, mais um registro de feminicídio em meio às estatísticas. O ciclo do abuso, desta vez, encontrou seu desfecho final.
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