Acusado de homicídio culposo ao volante, empresário Fernando Sastre, 24, sai do isolamento em penitenciária conhecida por abrigar detentos de "famosos"
No último domingo, dia 19 de maio, a transferência do empresário Fernando Sastre de Andrade Filho para uma cela comum na Penitenciária 2 de Tremembé, no interior de São Paulo, reacendeu debates sobre a aplicação da justiça em casos envolvendo indivíduos de alto perfil econômico e social. Sastre Filho, de 24 anos, motorista de um Porsche envolvido em um acidente fatal, passou dez dias em regime de observação antes de ser alocado em uma cela compartilhada.
O acidente, que ocorreu em circunstâncias trágicas e que culminou na morte de Ornaldo da Silva Viana, motorista de aplicativo de 52 anos, trouxe à tona a questão da imprudência e responsabilidade de motoristas influentes. Fernando Sastre Filho dirigia sob efeito de álcool e, segundo a perícia tecno-científica, em alta velocidade quando colidiu com a traseira do veículo de Viana. A tragédia não apenas encerrou a vida de um trabalhador, mas também abriu uma ferida na sociedade, expondo a vulnerabilidade de cidadãos comuns frente à imprudência dos privilegiados.
Após a decretação de sua prisão preventiva pela Justiça, Sastre Filho ficou três dias foragido antes de se entregar à Polícia Civil, demonstrando um comportamento que muitos interpretam como tentativa de evadir a responsabilidade. Seu breve período de detenção no Centro de Detenção Provisória (CDP) 2 de Guarulhos, seguido pelo isolamento no 31º Distrito Policial (Vila Carrão), foi marcado por relatos de noites insones e lágrimas, refletindo um estado emocional abalado. Contudo, essas reações, por mais humanas que sejam, não podem sobrepujar a gravidade do ato cometido.
A transferência para Tremembé, penitenciária que ganhou o apelido de "cadeia dos famosos", ou "Presídio de Caras" por abrigar detentos de alta visibilidade, suscita questões sobre tratamento preferencial e a equidade do sistema penitenciário brasileiro. A Penitenciária 2 de Tremembé é conhecida por abrigar figuras notórias, sugerindo um ambiente relativamente mais seguro e possivelmente menos severo em comparação com outras unidades prisionais. Tal condição leva à reflexão sobre a igualdade perante a lei e se o poder aquisitivo e status social de um indivíduo podem influenciar na forma como ele é tratado pelo sistema judicial e penitenciário.
As imagens capturadas por Juliana de Toledo Simões, pouco antes do acidente, revelam um Fernando Sastre Filho visivelmente alterado, com fala pastosa e comportamento errático, reforçando as acusações de que ele dirigia sob forte influência de álcool. A gravação, que também mostra a namorada de Sastre Filho, Giovanna Pinheiro da Silva, e a de Marcus Vinicius Machado Rocha, outra vítima do acidente, evidencia um momento de descuido e insensatez.
O impacto dessa tragédia é sentido além das famílias diretamente afetadas; reverbera pela sociedade como um todo, acentuando a necessidade de um debate mais amplo sobre as consequências do comportamento irresponsável ao volante e a aplicação rigorosa das leis de trânsito, independentemente da classe social dos envolvidos.
Este caso sublinha a necessidade de uma justiça que não apenas seja feita, mas também vista como justa e imparcial. O tratamento dispensado a Fernando Sastre de Andrade Filho até o momento levanta a questão: a lei é realmente cega ou vê com mais clareza quando se trata dos endinheirados?
A sociedade brasileira, historicamente marcada por desigualdades, deve exigir um sistema judicial que seja imune às influências externas, garantindo que todos, independentemente de seu status social, sejam responsabilizados de maneira equitativa. A confiança no sistema judicial é um pilar essencial para a coesão social e o avanço da justiça. Somente com uma aplicação imparcial da lei podemos começar a sanar as profundas feridas de um sistema que, demasiadas vezes, parece favorecer os mais privilegiados.
Esse é um lembrete severo da necessidade de fiscalização rigorosa e de uma reflexão contínua sobre as estruturas de poder e privilégio que permeiam nossa sociedade. A justiça deve ser uma balança, equilibrada e firme, não uma moeda que inclina conforme o peso da riqueza ou da fama.
0 Comentários