Facção criminosa brasileira expande sua influência para o exterior, com foco em fuga da justiça e contrabando de armas
Operações coordenadas entre Brasil e EUA intensificam combate à presença do PCC no exterior. |
As autoridades norte-americanas e brasileiras têm monitorado de forma crescente a presença de membros do Primeiro Comando da Capital (PCC) em solo estadunidense, com foco especial na atuação de "soldados" da facção. O recente caso da prisão de um brasileiro em Boston, Massachusetts, evidenciou a atenção dos governos para o movimento de criminosos ligados ao PCC, tentando estabelecer-se ilegalmente nos Estados Unidos, fugindo da justiça brasileira ou se envolvendo em atividades de contrabando de armas. A captura desse indivíduo, identificado como procurado no Brasil e envolvido em diversas atividades ilícitas, trouxe à tona um alerta significativo: o crescimento da presença do PCC em território norte-americano.
A Operação de Fiscalização e Remoção (ERO), uma unidade do Departamento de Imigração e Alfândega dos EUA (ICE), anunciou a prisão em 2023 de um homem de 50 anos, ligado ao PCC e procurado pela justiça brasileira. A sua entrada ilegal nos Estados Unidos, ocorrida dois meses antes de sua captura, foi mais um exemplo da presença de criminosos relacionados à facção em solo norte-americano. A maioria desses indivíduos, segundo autoridades, busca os Estados Unidos como refúgio, tentando escapar das intensas investigações e operações que o governo brasileiro tem realizado contra o crime organizado. O PCC, uma das maiores facções criminosas do Brasil, tem sido um dos principais alvos dessas operações.
De acordo com dados de inteligência brasileiros, o número de integrantes do PCC detectados nos EUA tem crescido desde 2022. Embora a presença de membros do alto escalão da facção ainda não tenha sido registrada, a detecção de "soldados" e colaboradores mais próximos tem chamado atenção. Estes indivíduos, muitas vezes com passagens pela justiça e extensa ficha criminal, vêm tentando fixar residência em estados norte-americanos, como Massachusetts e Pensilvânia, aproveitando-se da presença significativa de comunidades brasileiras nessas regiões.
Além da fuga da justiça, outra atividade que tem gerado preocupação é o envolvimento de membros do PCC em operações de contrabando de armas. O fluxo ilegal de armas, facilitado pelo acesso às fronteiras dos EUA com o México, tem sido uma das principais rotas de atuação dos criminosos ligados ao PCC. Informações compartilhadas entre as polícias brasileira e norte-americana indicam que a facção utiliza essas rotas para obter armamento pesado, essencial para a manutenção de suas atividades no Brasil.
Em particular, a Border Patrol, responsável pela patrulha da fronteira sul dos Estados Unidos, tem colaborado com a Polícia Federal brasileira no combate ao contrabando de armas e na identificação de membros da facção. A cooperação entre os dois países tem se intensificado nos últimos anos, com a troca de informações sobre a atuação do PCC, suas hierarquias e métodos de operação, incluindo a identificação de tatuagens e outros sinais distintivos usados pelos integrantes da facção.
Outra vertente que tem sido investigada pelas autoridades norte-americanas diz respeito ao uso de capitais ilícitos em investimentos imobiliários e comerciais por parte de familiares de grandes traficantes ligados ao PCC. Miami, conhecida por ser um destino de luxo e com grande apelo para investidores estrangeiros, tem sido uma das principais áreas de atuação desses grupos. A aquisição de propriedades e bens de alto valor tem sido monitorada de perto pelas autoridades, que suspeitam da utilização desses ativos como forma de lavagem de dinheiro proveniente do tráfico de drogas no Brasil.
Estima-se que o PCC tenha cerca de 40 mil membros, muitos dos quais operam diretamente no Brasil, mas com ligações internacionais cada vez mais expressivas. Embora as autoridades norte-americanas não tenham identificado uma operação organizada de tráfico de drogas conduzida pelo PCC em território americano – mercado que é amplamente dominado pelos cartéis mexicanos – a preocupação com a influência da facção no contrabando de armas e na lavagem de dinheiro tem crescido substancialmente.
Casos recentes de prisões e deportações têm demonstrado que as autoridades americanas estão cada vez mais atentas à presença de brasileiros ligados ao crime organizado em seu território. Em agosto de 2023, Adinan de Souza Fontoura, de 42 anos, também foi preso em Boston. Ele era procurado no Brasil por roubo e foi deportado logo após sua captura. Esse é apenas um dos muitos exemplos de ações de cooperação entre os governos brasileiro e norte-americano no combate à criminalidade transnacional.
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