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Ubatuba no subterrâneo do tráfico: A Polícia Militar Ambiental e os tonéis da vergonha

 17 quilos de drogas são apreendidos em operação; tonéis enterrados em área de mata revelam o submundo das drogas no Litoral Norte

Tonéis de drogas foram apreendidos pela Polícia Militar Ambiental em Ubatuba, enterrados em área de mata no bairro Sesmaria. Foto: SSP/SP-Divulgação.

Ubatuba, destino paradisíaco do litoral norte, há muito é famosa por suas praias de águas cristalinas e belezas naturais que atraem turistas de todos os cantos. Mas, longe dos olhos dos que aproveitam as paisagens, há uma realidade subterrânea bem menos convidativa. Na quinta-feira (19), a Polícia Militar Ambiental trouxe à tona um cenário da vida real: seis tonéis enterrados no bairro Sesmaria, cheios de drogas.

A operação, que começou com uma denúncia anônima de tráfico de drogas, culminou na apreensão de 17 quilos de cocaína, maconha, crack e skunk, escondidos no meio da mata, como se a natureza tentasse mascarar os horrores do submundo do crime. No centro dessa trama, um homem de 33 anos, que preferiu o risco da prisão ao risco de ficar de mãos abanando, foi preso em flagrante ao tentar fugir. Uma fuga patética, que mais parecia um corriqueiro jogo de esconde-esconde, logo frustrada pelos policiais. Com ele, encontraram 70 porções de cocaína prontas para serem distribuídas.

O cenário da prisão, um bairro simples que carrega o nome de uma das instituições mais arcaicas do Brasil – Sesmaria, um termo que remonta aos tempos coloniais – parece ironizar a situação. Se no passado as sesmarias eram terras doadas a colonos para cultivo, hoje o cultivo é outro. E não é de alimentos.

A operação levou cerca de duas horas de busca até que os policiais desenterrassem os tonéis. Escondidos com a meticulosidade de quem sabe que a polícia está à espreita, os recipientes foram estrategicamente enterrados em uma área de mata, longe de olhares curiosos e, principalmente, da lei. A apreensão não só desbaratou mais uma célula do tráfico, mas também trouxe à luz a sofisticação do comércio ilegal que, nas sombras, se esconde até mesmo nos destinos mais paradisíacos.

O cuidado em ocultar as substâncias ilícitas revela não apenas a habilidade dos criminosos em desviar-se da fiscalização, mas também o quão enraizado está o tráfico na região.

A operação da Polícia Ambiental em Ubatuba deixa uma pergunta retórica no ar: para onde estamos caminhando? Em uma cidade onde turistas buscam refúgio e paz, traficantes encontram um terreno fértil para espalhar o caos. O que antes era sinônimo de refúgio natural e tranquilidade agora também carrega o estigma de ser um porto seguro para o narcotráfico.

Os mais otimistas dirão que as ações da polícia são uma vitória e uma resposta à altura para os criminosos. Mas será mesmo? A apreensão de 17 quilos de drogas, embora significativa, é apenas uma fração do que realmente circula no mercado negro. A prisão de um único suspeito, por mais que possa parecer um golpe no tráfico, está longe de desmantelar a teia criminosa que opera na região. O que se vê é apenas a ponta de um iceberg que segue flutuando impunemente nas águas turvas da impunidade.

Enquanto isso, os moradores de bairros como Sesmaria, que já lidam com a precariedade dos serviços públicos, a violência crescente e o abandono do poder público, veem suas comunidades serem invadidas por essa praga que parece não ter fim. O tráfico de drogas se enraíza onde o Estado não alcança, ocupando espaços deixados à margem.

A atuação da Polícia Militar Ambiental, embora louvável, não deixa de suscitar o sentimento de que estamos diante de uma batalha interminável, um jogo de gato e rato em que, na melhor das hipóteses, o gato consegue, por um breve momento, colocar as garras no roedor, mas nunca de fato erradicar o problema. O tráfico de drogas é um câncer que se espalha pela sociedade, e mesmo ações como a apreensão de tonéis em Ubatuba são apenas um paliativo temporário.

O ciclo se repete: denúncias anônimas, operações policiais, prisões, apreensões. E, no entanto, o tráfico se adapta, encontra novas rotas, enterra novos tonéis. As forças de segurança, por mais treinadas e dedicadas que sejam, parecem estar sempre um passo atrás, agindo de forma reativa enquanto o crime se reinventa constantemente.

No fim das contas, enquanto o sol brilha nas praias de Ubatuba e os turistas continuam a chegar em busca de momentos de descontração, a realidade das drogas permanece soterrada, à espera da próxima denúncia, da próxima apreensão. E assim, seguimos, vivendo entre a beleza natural e o caos subterrâneo.



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