Últimas Notícias

8/recent/ticker-posts

A farsa das organizações sociais na gestão pública: Um sistema que mercantiliza a vida e desmonta o SUS

Crise na saúde pública: Terceirização, descaso e o sofrimento de quem mais precisa

Professora aposentada denuncia o caos e o descaso na saúde pública de Santos, expondo falhas graves na gestão terceirizada da UPA Central. Foto: Prefeitura de Santos.

No último sábado (18), o desabafo da professora aposentada Ana Maria Dias Pinho escancarou as profundas falhas no atendimento de saúde pública em Santos. Após 37 anos dedicada à educação municipal, Ana Maria se viu impotente diante da precariedade na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Central, gerenciada pela organização social Instituto Nacional de Pesquisa e Gestão (InSaúde). Seu Neto, um jovem de 26 anos em crise de pânico, foi atendido de forma negligente e, segundo aposentada, tratado como "mais um problema a ser despachado".

A médica de plantão, ao ouvir o relato, optou pela administração de uma injeção potente sedativa e por um simples encaminhamento para um atendimento psiquiátrico posterior. Não houve internação, acompanhamento ou sequer um suporte para o transporte do paciente, que deixou a unidade cambaleando, carregado pela família e por um motorista de aplicativo.

A negligência, que vai contra os protocolos estabelecidos pelo Plano Municipal de Saúde de Santos, evidenciou um sistema público terceirizado que, ao invés de eficiência e qualidade, como prometido em 2016, tornou-se sinônimo de desamparo e insatisfação.

Desde que a gestão da UPA Central foi entregue às organizações sociais, o resultado tem sido uma sequência de reclamações e escândalos. A Fundação do ABC, primeiro OS a gerenciar a unidade, acumulou denúncias por má administração em diversos municípios. A InSaúde, que assinou o contrato em 2021 por R$ 125 milhões, não fica atrás: denúncias de irregularidades, falta de fiscalização e relatos de serviços ineficazes são constantes.

O valor de R$ 2 milhões mensais destinado à gestão da UPA parece não se traduzir em benefícios para a população. Ao contrário, o modelo de terceirização tem servido para reduzir o atraso, precarizar as condições de trabalho e priorizar o lucro em detrimento do atendimento humanizado.

Por trás das promessas de modernização, as organizações sociais atuam como empresas privadas disfarçadas de parceiros públicos. No setor de saúde, a consequência mais evidente dessa lógica é o abandono das diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS). Protocolos que garantem internações imediatas em casos psiquiátricos graves, como o do neto de Ana Maria, são ignorados por profissionais que, pressionados por contratos e metas, soluções rápidas e ineficazes.

A situação relatada por Ana Maria não é isolada. Durante sua permanência na UPA Central, outras pessoas que aguardavam atendimento compartilharam histórias semelhantes de descaso. Ela conseguiu registrar uma reclamação formal junto à Ouvidoria Municipal, mas encontrou mais obstáculos: falta de estrutura, desrespeito e o desafio institucional. Aos 78 anos, sem sequer um local adequado para esperar, questionou: "Que saúde é essa?".

O caso de Santos ilustra uma realidade nacional. As organizações sociais, entidades da sociedade civil e Oscips (Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público), muitas vezes promovem o desmonte do serviço público essencial, abrindo caminho para a mercantilização da saúde.

Ao longo dos últimos anos, o subfinanciamento do SUS e a terceirização desenfreada intensificaram crises. A promessa de eficiência nunca se concretiza, mas os prejuízos são claros: falta de leitos, profissionais sobrecarregados, pacientes desassistidos e um sistema cada vez mais dependente de contratos milionários que não entregam o prometido.

Em Santos, o Plano Municipal de Saúde 2022-2025 previa 10 leitos psiquiátricos de retaguarda no Complexo Hospitalar da Zona Noroeste até 2025. No entanto, casos como o de Ana Maria mostram que essa meta ainda está longe de ser cumprida.

Enquanto as organizações sociais se perpetuam como gestoras, as denúncias de corrupção e má administração continuam a surgir em todo o país. A lógica do mercado transforma serviços públicos em negócios lucrativos, precarizando a vida de quem depende deles. Trabalhadores perdem direitos, usuários enfrentam filas e má qualidade, enquanto empresas e seus gestores prosperam.

O modelo de gestão pública baseado em terceirizações demonstra ser um reflexo cruel de um sistema que coloca o lucro acima da dignidade humana. Sem fiscalização adequada e com contratos milionários mal administrados, as organizações sociais continuam a operar como peças de uma engenharia que descartam vidas e priorizam números.



Tags: #SaúdePública #UPACentral #Terceirização #DesmonteDoSUS #BaixadaSantista #DireitosHumanos #CriseNaSaúde

Postar um comentário

0 Comentários