Nomeação de oficial acusado de homicídio provoca indignação e levanta debates sobre impunidade e protocolos policiais
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Familiares de Luan dos Santos estão inconformados com a promoção do policial, e exigem justiça e responsabilização. Foto: Reprodução/Redes Sociais. |
Em um episódio que desafia os princípios de justiça e responsabilidade, o policial militar Rafael Cambuí, acusado de matar o balconista de farmácia Luan dos Santos durante uma abordagem em Santos, foi recentemente promovido a comandante da Polícia Militar (PM). A decisão provocou profunda indignação entre familiares e amigos da vítima, além de reacender debates sobre a impunidade e a conduta das forças de segurança.
O incidente ocorreu em fevereiro de 2024, quando Luan dos Santos, de 32 anos, transitava com amigos pela Rodovia Anchieta. Entre os presentes, estava um policial civil pilotando uma moto BMW. Durante o patrulhamento, o então major Rafael Cambuí interpretou erroneamente que a moto Honda, na qual Luan era passageiro, estava tentando roubar a BMW, que seguia cerca de 60 metros à frente. Sem solicitar reforço ou verificar os fatos, Cambuí ordenou a parada da motocicleta e, antes de qualquer reação dos ocupantes, disparou contra Luan enquanto este descia da garupa, mesmo sem apresentar resistência. O jovem não resistiu aos ferimentos e faleceu no local.
Em seu depoimento inicial, Cambuí alegou que o disparo foi acidental. Posteriormente, modificou sua versão, afirmando que Luan teria feito um movimento suspeito, como se estivesse armado, ao mexer no bolso do casaco, o que o levou a atirar por precaução. No entanto, o laudo do Instituto Médico Legal (IML) contradisse essas declarações, indicando que Luan foi atingido por dois disparos, sugerindo uma ação deliberada. Diante dessas evidências, o Ministério Público concluiu que a justificativa apresentada pelo policial era infundada.
Apesar de responder a processo judicial, Rafael Cambuí foi promovido a comandante da PM, decisão que gerou revolta e sensação de injustiça entre os familiares de Luan dos Santos. A mãe do jovem, que preferiu manter o anonimato, desabafou: "Como mãe, tive que assistir ao assassinato do meu filho por alguém que deveria protegê-lo. Luan era trabalhador, um bom filho, irmão, amigo e excelente profissional. A dor pela perda é intensificada pela promoção desse oficial. Onde está a justiça no Brasil? Queremos que a verdadeira justiça seja feita".
As irmãs de Luan também expressaram sua indignação: "A promoção desse major é lamentável e nos causa uma dor imensurável. Ver o responsável pela morte do nosso irmão ser promovido é um tapa na cara. Ainda acreditamos na justiça, tanto dos homens quanto de Deus, e não vamos desistir".
O advogado da família, Mário Badures, enfatizou a necessidade de revisão das ações estatais: "Questões como essa devem ser obrigatoriamente reavaliadas pelo Estado de São Paulo. Os familiares de Luan e sua defesa não medirão esforços para que as provas contundentes levem o major a ser preso, julgado e condenado exemplarmente no Tribunal do Júri, além de ser exonerado dos quadros da Polícia Militar".
A Secretaria da Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) informou que o caso foi investigado pela 3ª Delegacia de Homicídios em Santos e pela própria PM, através de um Inquérito Policial Militar (IPM), ambos encaminhados ao Poder Judiciário. Até o momento, não houve manifestação judicial sobre o caso. A SSP-SP destacou que as promoções na Polícia Militar consideram o cumprimento de requisitos normativos, aprovação em cursos de aperfeiçoamento e a disponibilidade de vagas no posto almejado.
Este incidente ocorreu durante a Operação Verão no litoral paulista, que resultou em 56 mortes na Baixada Santista em 2024. A promoção de um oficial envolvido em uma ação letal questionável lança uma sombra sobre os procedimentos internos da corporação e levanta preocupações sobre a responsabilização adequada em casos de uso excessivo da força por parte das autoridades.
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