Operação policial desvenda complexa teia de crimes supostamente liderada por mulher de 67 anos, culminando em prisão e resgate de criança
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Avó de 67 anos é presa em Itanhaém por tráfico de drogas; polícia também investiga maus-tratos a netos, furto de energia e jogo ilegal em sua propriedade. Foto: Polícia Civil/Divulgação. |
Numa reviravolta digna de roteiros que embaralham a doçura da terceira idade com a crueza do submundo, uma senhora de 67 anos viu o sol nascer quadrado nesta quarta-feira (9), em Itanhaém. A idosa, que já pairava sob a lupa da Polícia Civil por suspeitas de maltratar os próprios netos – crianças de tenra idade, com apenas 1 e 2 anos –, foi detida em flagrante delito enquanto, segundo as autoridades, gerenciava um ponto de venda de drogas em sua própria residência. Como se não bastasse o comércio ilícito e a sombra da negligência infantil, as investigações desdobraram-se, revelando um leque de irregularidades que inclui furto de energia elétrica e a exploração de jogos de azar. Uma verdadeira empreendedora do crime, ao que tudo indica.
A ação policial que culminou na detenção ocorreu na Estrada do Rio Preto, por volta das 15h30. A Delegacia de Investigações Gerais (DIG) de Itanhaém já vinha, há cerca de um mês, tecendo a rede que levaria à captura. Informações recebidas via denúncia apontavam para um cenário preocupante no bairro Gaivota: uma avó e a mãe das crianças estariam não apenas negligenciando os menores, mas também envolvidas com tráfico de entorpecentes e receptação de objetos furtados. A paciência e a persistência investigativa, materializadas em patrulhamentos discretos e longas horas de campana, confirmaram a veracidade das suspeitas. O movimento constante de indivíduos com aparência de usuários de crack no imóvel da idosa era um sinal luminoso demais para ser ignorado.
O modus operandi para a venda das substâncias ilícitas, segundo apurado, era quase artesanal em sua clandestinidade: as transações ocorriam através de discretas frestas no muro da propriedade. Um balcão de negócios improvisado, adaptado à ilegalidade. Dada a gravidade das denúncias, que incluíam a vulnerabilidade das crianças, a estratégia policial mais assertiva foi buscar o respaldo judicial. Um mandado de busca e apreensão foi prontamente expedido pela Vara Regional das Garantias da 7ª Região de Santos, permitindo uma intervenção mais incisiva.
Para garantir a eficácia da operação e a segurança dos envolvidos – e talvez adicionar um toque de modernidade tecnológica ao combate ao crime suburbano –, a Polícia Civil lançou mão de um drone. O olho eletrônico pairou sobre a cena, monitorando a distância enquanto as equipes se preparavam para a abordagem. O flagrante se deu no exato momento em que a idosa, alheia à vigilância aérea e terrestre, passava uma pedra de crack para um jovem de 26 anos, suposto cliente.
Com a matriarca do esquema detida, os policiais realizaram a busca no imóvel. O resultado foi um inventário que fala por si: 38 porções de crack prontas para a venda, 2 porções de maconha, 14 papelotes de cocaína, cadernos com anotações que sugerem uma contabilidade do tráfico, embalagens plásticas para as drogas e a quantia de R$ 868 em dinheiro vivo. Coroando o cenário, em um bar anexo pertencente à idosa, foi encontrada uma máquina caça-níquel em pleno funcionamento, adicionando o jogo de azar à lista de infrações. A outra figura central da denúncia, a mãe das crianças, não se encontrava no local durante a batida policial.
O capítulo mais sombrio desta história, contudo, ainda estava por vir. Alertados pelo choro insistente de uma criança, os policiais localizaram a neta de 2 anos em uma moradia vizinha. A cena encontrada foi desoladora: a menina estava sozinha há horas, trancada em um quarto escuro. A casa, completamente aberta e sem qualquer segurança, oferecia riscos evidentes. Próximo à criança, um ventilador ligado, perigosamente sem grades de proteção. A mãe da menina só apareceu por volta das 17h30, quase duas horas após a prisão da avó, com a justificativa de que havia saído para buscar a outra filha na escola – uma explicação que agora será minuciosamente avaliada pelas autoridades competentes.
Diante da flagrante situação de abandono e risco, o Conselho Tutelar foi imediatamente acionado, assim como a perícia técnica, para documentar as condições em que a criança foi encontrada. A constatação do furto de energia elétrica ("gato") no estabelecimento da idosa e a presença da máquina caça-níquel apenas reforçaram o quadro de múltiplas irregularidades.
A idosa de 67 anos foi conduzida à delegacia, onde permaneceu presa em flagrante pelos crimes constatados. O caso segue em investigação para apurar a extensão total das responsabilidades, incluindo o papel da mãe das crianças e a confirmação definitiva dos maus-tratos. Uma história que mistura a vulnerabilidade infantil com a criminalidade na terceira idade, deixando um rastro de perplexidade e a triste constatação de que, por vezes, o perigo mora sob o mesmo teto que deveria oferecer proteção.
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