Acusações de uso indevido de viatura oficial por Raquel Gallinati, feitas por vereador do mesmo partido, Allison Sales, desencadeiam batalha de versões
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Fachada da Câmara Municipal de Santos, palco de recente tensão política envolvendo proposta de investigação contra Secretária de Segurança. Foto: Arquivo/Câmara de Santos. |
O cenário político da Câmara Municipal de Santos encontra-se sob forte tensão após a aprovação de um requerimento, liderado pelo vereador Allison Sales (PL), que propõe a instalação de uma Comissão Especial de Inquérito (CEI). O alvo da investigação seria a Secretária Municipal de Segurança Pública, Raquel Kobashi Gallinati Lombardi, figura proeminente e também filiada ao PL. A controvérsia gira em torno de denúncias, apresentadas pelo próprio Sales, sobre um suposto uso irregular de uma viatura oficial da Guarda Civil Municipal (GCM) pela secretária.
Com o apoio formal de outros seis parlamentares – Chico Nogueira (PT), Débora Camilo (PSOL), Fábio Duarte (PL), Marcos Caseiro (PT), Rui De Rosis Júnior (PL) e Sérgio Santana (PL) –, Sales reuniu as assinaturas mínimas necessárias para protocolar a proposta de CEI. O vereador defende a medida como um "passo importante pela transparência e pelo uso correto dos recursos públicos", conforme declarou em suas plataformas digitais, sublinhando seu papel fiscalizador. A perspectiva de instalação da comissão, que poderia ser votada já nas próximas sessões legislativas, reacende um instrumento de investigação parlamentar pouco utilizado na Casa nos últimos anos para apurar condutas de membros do Executivo.
No entanto, o caminho para a efetivação da CEI não se afigura simples. A bancada de sustentação ao prefeito Rogério Santos (Republicanos) já demonstrou resistência em movimentos anteriores, como quando barrou, por 13 votos a 7, a convocação da secretária para prestar esclarecimentos sobre o mesmo tema. Fontes indicam um crescente incômodo entre os aliados do governo com o desgaste político gerado pelo episódio, colocando em xeque a coesão do grupo. Sales, por sua vez, alega contar com amplo apoio popular, de entidades civis e de figuras políticas regionais e estaduais em sua iniciativa, afirmando que apenas cumpre sua obrigação legal e que tem recebido novas denúncias, inclusive de servidores públicos.
Em contrapartida, a secretária Raquel Gallinati rechaça veementemente as acusações. Ela argumenta que todos os deslocamentos realizados com a viatura oficial estavam estritamente ligados a compromissos inerentes à sua função pública. Ademais, justifica a necessidade do veículo em função de ameaças de morte que afirma ter sofrido no exercício do cargo, um fator que demandaria medidas adicionais de segurança. Gallinati não apenas nega irregularidades, mas também contra-ataca: solicitou formalmente a instauração de inquérito policial contra Allison Sales. As imputações ao vereador incluem supostos crimes de violação de sigilo funcional, perseguição, violência psicológica e difamação, esta última por meio de redes sociais ao sugerir a prática de peculato – crime que consiste na apropriação ou desvio de bens públicos por funcionário público. A secretária sustenta que Sales induziu a população a erro, expondo-a como agente de segurança a riscos concretos à sua integridade física.
O vereador Sales, por seu lado, reitera que agiu motivado por alertas de munícipes, que teriam inclusive ameaçado denunciá-lo por prevaricação caso não levasse a questão adiante. Ele assegura que manterá sua postura fiscalizatória e que se defenderá de qualquer processo judicial. Caso a instalação da CEI seja obstruída pela maioria governista na Câmara, Sales já anunciou sua intenção de encaminhar as denúncias diretamente ao Ministério Público do Estado de São Paulo (MP-SP), buscando uma investigação externa ao Legislativo.
Diante da possibilidade iminente da CEI, Raquel Gallinati adota um tom firme. Afirma que nenhuma "ameaça, tentativa de intimidação, manobra política ou desvio de foco — ainda que revestidos de discursos institucionais" paralisará o trabalho de sua pasta. Para ela, uma eventual comissão de inquérito motivada por "interesses políticos" não abalará a condução de uma gestão que classifica como "séria, técnica e verdadeiramente comprometida com a segurança da população de Santos". E conclui: "Seguiremos firmes e determinados no combate ao crime e na proteção da nossa cidade".
O desenrolar dos próximos dias no Legislativo santista será crucial para definir se a CEI ganhará corpo ou se o embate se deslocará para outras esferas, como a Justiça ou o Ministério Público, mantendo a administração municipal sob os holofotes de uma crise política interna de contornos ainda imprevisíveis.
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