Com o aumento dos casos, a Fundação Oswaldo Cruz reforça a necessidade de vigilância e vacinação, enquanto o país lida com múltiplas ameaças virais
A persistência dos casos de SRAG no Brasil acende alerta sobre a importância da vacinação e medidas preventivas. |
A nova onda de doenças respiratórias no Brasil parece ter deixado de ser manchete, mas a realidade é mais preocupante do que a calma aparente. O Boletim InfoGripe da Fiocruz, divulgado recentemente, apresenta um panorama que, embora já não cause o alarde dos primeiros anos da pandemia, mantém o país sob um cenário preocupante: o aumento dos casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), impulsionado, em grande parte, pela covid-19.
O Distrito Federal, Goiás, Rio de Janeiro, Mato Grosso do Sul e São Paulo estão entre as unidades da federação com maior crescimento de internações e complicações associadas à covid-19. Embora os números possam não parecer tão drásticos quanto os de 2020 ou 2021, os gráficos apontam para uma tendência ascendente que merece, no mínimo, mais atenção do que temos dado. A velha conhecida do noticiário, a covid-19, agora compartilha os holofotes com outros agentes respiratórios, como o rinovírus e o vírus sincicial respiratório (VSR), que têm feito vítimas, principalmente, entre crianças e adolescentes.
Talvez o mais preocupante nesse novo cenário seja a indiferença coletiva. O aumento de SRAG, especialmente entre os idosos, continua a ser uma preocupação, com o predomínio dos casos causados pela covid-19. Porém, aparentemente, a gravidade dos números já não desperta tanto interesse. A complacência com a "nova normalidade" parece ter colocado a sociedade em um estado de torpor, onde a pandemia e suas consequências são vistas como parte da rotina.
No Norte e Nordeste, há um predomínio do rinovírus, especialmente em crianças e adolescentes de até 14 anos, e mesmo com a leve desaceleração dos casos em algumas regiões, a situação ainda preocupa. As hospitalizações por rinovírus podem estar caindo, mas isso não significa que o problema tenha sido resolvido. No agregado nacional, tanto a tendência de curto quanto de longo prazo mostram crescimento dos casos de SRAG. Em outras palavras: a calmaria é apenas aparente, e a tempestade continua a rondar.
A resposta oficial tem sido a de sempre: vacinem-se. De fato, a vacinação é um dos pilares no combate à pandemia e outras infecções respiratórias, mas será que a repetição desse mantra está surtindo efeito? O Rio Grande do Sul, por exemplo, já começa a observar um aumento nos casos graves de influenza A, ao passo que o restante do país mantém os números sob controle. A orientação, como de praxe, é que todos os grupos de risco procurem se vacinar. No entanto, o que parece estar faltando é uma discussão mais séria sobre por que a adesão às campanhas vacinais continua a ser um desafio. Será falta de conscientização ou excesso de confiança em uma imunidade coletiva que nunca se concretizou totalmente?
As palavras da pesquisadora Tatiana Portella, da Fiocruz, soam como um déjà vu: "é importante que todas as pessoas do grupo de risco estejam em dia com a vacina". Não soa familiar? Em quantos comunicados oficiais, notícias e campanhas de conscientização ouvimos essa frase? E, mesmo assim, aqui estamos, novamente, tentando impedir o avanço de doenças respiratórias com as mesmas medidas que parecem ter perdido o poder de persuasão.
A Fiocruz tem feito o seu papel, alertando sobre os perigos de uma possível sobrecarga nos sistemas de saúde, principalmente diante do aumento de SRAG em diversas partes do país. No entanto, a sensação que prevalece é a de que o público já não escuta com o mesmo interesse. Será que cansamos de nos preocupar ou apenas nos adaptamos à ideia de viver em um estado de crise permanente?
Enquanto isso, entre os mais jovens, o vírus sincicial respiratório e o rinovírus continuam sendo os grandes vilões, com internações e óbitos em alta. E, mesmo que a situação pareça se estabilizar, sempre há o risco de uma nova subida nos números. A sensação de que estamos constantemente à beira do abismo, mas sem a real disposição de evitar a queda, transforma o discurso da saúde pública em um grito que ecoa no vazio.
No fim, o boletim da Fiocruz serve como um lembrete do que ainda está por vir. As tendências de curto e longo prazo mostram uma nação que, embora tenha avançado em termos de controle e prevenção, ainda lida com desafios consideráveis no combate às doenças respiratórias. O aumento dos casos graves de covid-19, especialmente entre os idosos, e o crescimento de infecções por rinovírus entre os mais jovens, não são sinais de uma normalidade reconquistada, mas de um problema que persiste e, em alguns casos, se agrava.
Enquanto as campanhas de vacinação são reforçadas, a pergunta que paira no ar é: estamos dispostos a ouvir o alerta, ou seguiremos ignorando a realidade, esperando que a tempestade passe sem grandes danos?
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