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Sabesp e os pinos de cocaína: Quando o esgoto vira cena de crime e a culpa escorrega pelo ralo

Empresa aponta resíduos descartados irregularmente, mas narrativa escoa para um cenário tragicômico de negligência e falta de soluções definitivas

Pinos de cocaína encontrados em poço de visita da rede de esgoto de Santos revelam falhas estruturais e um sistema que parece cada vez mais vulnerável. Foto: Reprodução/Redes Sociais.

Era para ser mais uma manutenção rotineira na rede de esgoto de Santos, mas o que os técnicos da Sabesp encontraram no cruzamento das avenidas Waldemar Leão e Rangel Pestana parecia mais uma cena de um episódio ruim de série policial: uma grande quantidade de pinos plásticos usados para armazenar cocaína, acompanhados de uma garrafa de bebida alcoólica, repousavam nas profundezas do sistema de saneamento. A descoberta, por si só, já renderia manchetes, mas o contexto ampliou ainda mais o cenário de caos.

Nos últimos dias, a Baixada Santista tem enfrentado um aumento alarmante nos casos de virose, que muitos especialistas associam diretamente ao extravasamento de esgoto no mar. Praias impróprias para banho, água turva e um cheiro que dispensa comentários têm se tornado parte do "pacote turístico" da região. A Prefeitura de Guarujá já notificou a Sabesp sobre possíveis vazamentos, enquanto Itanhaém abriu um procedimento administrativo contra a companhia (leia aqui).

E então, como num roteiro barato, surge a imagem dos pinos de cocaína. Foi o vereador Benedito Furtado (PSB) quem compartilhou as fotos do achado. Nas redes sociais, a repercussão foi imediata, com comentários que transitavam entre a indignação e o humor involuntário: "Nem o esgoto escapa do tráfico" ou "É o novo delivery subterrâneo?". Brincadeiras à parte, o problema é sério. Além do descarte inadequado de resíduos, o episódio aponta para a vulnerabilidade estrutural do sistema de esgoto da região.

A Sabesp, por sua vez, emitiu uma nota técnica explicando que realiza limpezas regulares nos poços de visita e reiterou que o descarte inadequado de materiais como plásticos, preservativos, gordura e, aparentemente, pinos de cocaína, prejudica gravemente o funcionamento da rede. Em outras palavras, a culpa recai, mais uma vez, sobre o cidadão que "não sabe usar o vaso sanitário corretamente".

Mas até onde a responsabilidade do consumidor vai e onde começa a responsabilidade da empresa? A presença de pinos de cocaína no sistema de esgoto pode ser apenas mais uma das muitas pontas soltas de um problema que há décadas atormenta a região: um saneamento básico que nunca deixou de ser básico demais. Em um estudo recente, foram detectados impressionantes 500 nanogramas de cocaína por litro de água do mar em Santos. Em uma cidade onde até as ondas parecem estar em êxtase químico, o problema vai muito além dos resíduos plásticos.

Enquanto isso, moradores seguem adoecendo, praias continuam com bandeiras vermelhas e turistas começam a repensar seus roteiros de férias. A Sabesp promete novas manutenções, novas limpezas, mas o cheiro da desconfiança persiste. Afinal, quando o esgoto vira depósito clandestino de entorpecentes, fica difícil acreditar que a culpa se resuma ao descarte indevido por parte da população.

Resta agora saber se o próximo capítulo dessa novela sanitária trará soluções concretas ou apenas mais manchetes tragicômicas. Até lá, é bom pensar duas vezes antes de pisar nas águas "cristalinas" da Baixada Santista.



Tags: #Sabesp #Saneamento #Poluição #BaixadaSantista #CriseSanitária #VazamentoEsgoto

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