Em São Vicente, autor de furto entrega o próprio receptador e contribui para desmantelar esquema de revenda de eletrônicos sem procedência
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Receptador é preso com celulares furtados após ser apontado pelo próprio autor do roubo; caso foi registrado em São Vicente. Foto: Divulgação/Polícia Civil. |
A máxima "ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão" parece ter ganhado um novo capítulo, desta vez nas ruas de São Vicente. Na tarde da última quinta-feira (31), um homem de 28 anos foi preso em flagrante por receptação qualificada após ser "gentilmente" delatado por quem lhe forneceu o produto do crime: o próprio ladrão.
O caso começou com o roubo de um iPhone 16 — aquele tipo de aparelho que mais vale que muito carro usado — em um assalto com violência. A vítima foi abordada por dois criminosos que, após o ataque, fugiram com o celular novinho. A Polícia Civil iniciou diligências e, com rapidez surpreendente para os padrões brasileiros, conseguiu localizar um dos autores do crime na Casa de Passagem da Prefeitura de São Vicente.
O criminoso, talvez tomado por um momento de remorso ou apenas tentando aliviar a própria barra, confessou sua participação e ainda "fez questão" de entregar o comprador do aparelho roubado. Segundo ele, o celular havia sido repassado a um homem conhecido por atuar na compra e venda de eletrônicos usados — o famoso "comércio paralelo", com endereço muitas vezes mais fluido que o de certas lojas físicas.
Seguindo as informações fornecidas pelo delator, os policiais encontraram o receptador circulando de moto pela via pública. Abordado, o suspeito negou qualquer envolvimento com crimes, mas, sem alternativa melhor, autorizou a entrada dos policiais em sua residência, na Avenida Nações Unidas. Lá, como num feirão de Black Friday sem nota fiscal, foram encontrados quatro celulares de origem duvidosa, inclusive o iPhone da vítima, além de R$ 2.300 em dinheiro, sete cartões bancários de terceiros e uma máquina de cartão.
Ao ser confrontado com o festival de provas, o suspeito declarou trabalhar com compra e venda de celulares — prática até comum em tempos de upgrade anual. O problema é que ele não apresentou sequer um papelzinho que comprovasse a origem legal dos dispositivos encontrados, nem mesmo um recibo, uma nota fiscal, um comprovante do OLX.
Com isso, foi autuado por receptação qualificada, modalidade que agrava o crime por envolver atividade comercial com produtos oriundos de delitos. O caso foi registrado na Delegacia Sede de São Vicente.
Entre o roubo violento e a entrega espontânea, a história revela uma faceta tragicômica da criminalidade brasileira: até entre bandidos, a confiança é um artigo em extinção.
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