Ex-chefe da segurança do governador paulista é investigado por movimentar bilhões em esquema internacional de lavagem de dinheiro do crime organizado
Operação Tai-Pen da Polícia Federal desmantelou esquema bilionário de lavagem de dinheiro envolvendo fintechs e articuladores ligados ao PCC. |
A Polícia Militar do Estado de São Paulo (PMSP) anunciou o afastamento imediato do capitão Diogo Costa Cangerana de suas funções. O oficial, que já foi chefe da segurança do governador Tarcísio de Freitas, foi detido na terça-feira (26), durante a Operação Tai-Pen da Polícia Federal (PF). A investigação desarticulou uma complexa rede de lavagem de dinheiro ligada ao Primeiro Comando da Capital (PCC), estimada em movimentar cifras bilionárias ao longo dos últimos anos.
A operação revelou o funcionamento de um "banco paralelo" operado por fintechs – empresas de tecnologia e serviços financeiros – que, segundo as autoridades, teriam lavado cerca de R$ 6 bilhões provenientes do tráfico de drogas. Essas fintechs, baseadas no Brasil e com ramificações em ao menos 12 países, teriam viabilizado transações que somaram impressionantes R$ 120 bilhões entre contas de empresas e indivíduos.
As fintechs investigadas utilizavam um sistema estruturado para ocultar a origem ilícita dos valores, envolvendo movimentações por meio de países como EUA, Canadá, Turquia, Hong Kong e Dubai. Em um escritório localizado na Avenida Paulista, em São Paulo, a PF apreendeu R$ 311 mil em espécie.
O nome de Cangerana figura como um dos principais articuladores do esquema, com indícios de que ele teria facilitado a abertura de contas usadas para a lavagem de dinheiro do PCC. Sua prisão foi decretada pela 7ª Vara Criminal Federal e resultou no afastamento formal pela Diretoria de Pessoal da PM.
A carreira de Cangerana na Casa Militar inclui mais de uma década de serviços prestados. Até setembro deste ano, ele chefiava a Divisão de Segurança de Dignitários no Departamento de Segurança Institucional. Durante esse período, esteve diretamente envolvido em pelo menos 25 compromissos oficiais do governador, incluindo eventos internacionais, como a visita a Portugal em junho deste ano, onde acompanhou Tarcísio em negociações com investidores estrangeiros da Sabesp.
Mais recentemente, o capitão foi transferido para o 13º Batalhão da Polícia Militar, responsável pelo policiamento da Cracolândia, no centro de São Paulo.
Em resposta à prisão do ex-chefe de sua segurança, Tarcísio de Freitas adotou um tom de severidade, defendendo a apuração rigorosa do caso. “Se comprovada a participação, ele será punido. Mas isso não reflete a qualidade da PM paulista, que continua sendo uma instituição séria e essencial para a sociedade”, declarou o governador, ao reforçar que casos de desvios serão tratados como exceções.
A PM também reafirmou sua postura de não tolerância à corrupção em seus quadros e garantiu colaboração total com as investigações federais.
A Operação Tai-Pen, cujo nome faz referência à obra “Chefe Supremo”, marca um dos maiores golpes recentes contra o sistema financeiro do crime organizado no Brasil. Além das prisões, 41 mandados de busca e apreensão foram cumpridos em diversos estados.
As acusações envolvem crimes contra o sistema financeiro, organização criminosa, ocultação de capitais e evasão de divisas. Com a revelação de uma estrutura global para lavagem de dinheiro, as autoridades federais acreditam ter atingido um núcleo crucial das operações financeiras do PCC, o que pode enfraquecer as atividades da facção.
O envolvimento de um oficial de alta patente e de confiança do governo estadual lança luz sobre as infiltrações do crime organizado em instituições públicas, destacando a necessidade de monitoramento rigoroso e políticas anticorrupção mais efetivas. O caso expõe não apenas o alcance global das atividades do PCC, mas também os desafios enfrentados por governos na preservação da integridade de suas estruturas internas.
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