Justiça permite que ex-detento passe 42 dias na Baixada Santista; regime aberto impõe restrições mínimas ao condenado por crime que chocou o Brasil
O crime de 2008 que abalou o Brasil continua a gerar indignação e reflexões sobre justiça e impunidade. |
Em um dos casos mais emblemáticos da história criminal brasileira, Alexandre Nardoni, condenado pelo assassinato de sua filha Isabella, de apenas cinco anos, foi autorizado pela Justiça a passar o Natal e o Ano-Novo em um condomínio de alto padrão na Baixada Santista. A decisão, que surpreendeu parte da opinião pública, concede ao ex-detento o direito de permanecer no bairro Jardim Acapulco, no Guarujá, por 42 dias.
A autorização, expedida no último dia 5 de dezembro, é parte dos benefícios decorrentes da progressão de regime que Nardoni conquistou em maio deste ano. Condenado a 30 anos, dois meses e 20 dias de prisão, ele passou 16 anos na Penitenciária Doutor José Augusto César Salgado, em Tremembé, interior de São Paulo, antes de progredir ao regime aberto por apresentar boa conduta carcerária.
O assassinato de Isabella Nardoni, em 2008, mobilizou o Brasil pela crueldade e pelas circunstâncias. A menina foi arremessada do sexto andar de um prédio na zona norte de São Paulo. Após investigações minuciosas, Alexandre Nardoni e Ana Carolina Jatobá, sua então companheira, foram responsabilizados pela morte da criança. A condenação trouxe algum alívio à família materna de Isabella, mas o caso jamais deixou de gerar comoção e controvérsias.
Na época, a perícia concluiu que Isabella foi agredida antes de ser jogada pela janela, um ato que culminou em um julgamento amplamente divulgado pela mídia. Ana Carolina Jatobá, que também foi condenada, cumpriu sua pena em regime fechado até obter progressão de regime semelhante à de Alexandre.
Agora em regime aberto, Nardoni vive com a companheira em São Paulo. Mesmo nesta condição, ele deve cumprir algumas restrições, como só se ausentar de casa para trabalhar e informar previamente qualquer mudança de rotina à Justiça. A viagem ao Guarujá foi devidamente autorizada, embora envolva um contraste evidente: de uma cela em Tremembé a uma casa em um dos condomínios mais exclusivos do litoral paulista.
Durante sua estadia no Jardim Acapulco, ele está proibido de frequentar bares, casas de jogos e eventos públicos, devendo permanecer na residência designada. O bairro é conhecido por abrigar mansões de alto padrão, com segurança privada e exclusividade.
A decisão judicial que permitiu a viagem de Nardoni reacendeu debates sobre o sistema penal brasileiro, especialmente sobre as condições que permitem a progressão de regime para crimes hediondos. Enquanto o sistema prioriza a ressocialização do condenado, muitos se questionam se benefícios como este não desconsideram o impacto emocional para familiares da vítima e a sociedade, que testemunhou o caso com indignação.
O episódio também trouxe à tona as disparidades no cumprimento de penas no Brasil, onde condenados de alta renda podem usufruir de regalias que nem sempre estão disponíveis a detentos de classes menos favorecidas.
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