Gritos de desespero e tiros ecoam no Dique do Sambaiatuba em operação policial que resultou na morte de um jovem de 24 anos
Vielas do Dique do Sambaiatuba testemunham conflito entre dor e violência durante operação policial. |
O cenário de tensão extrema que tomou conta do bairro Sambaiatuba, em São Vicente, na manhã de domingo (8), mais uma vez lança um holofote sobre as complexas e controversas abordagens policiais em áreas vulneráveis do litoral paulista. Uma operação conduzida pela Polícia Militar terminou em tragédia, quando um jovem de 24 anos foi morto após uma suposta troca de tiros.
O episódio se tornou ainda mais perturbador com a divulgação de um vídeo que circula nas redes sociais, capturando o desespero de uma mulher identificada como a mãe do jovem. Nas imagens gravadas em uma viela da comunidade do Bugre, no Dique do Sambaiatuba, a mulher implora para entrar em uma residência onde, segundo ela, policiais interagiam violentamente com seu filho.
"Pelo amor de Deus, deixa eu entrar, caramba, eu sou a mãe dele!", grita, enquanto sons de disparos são ouvidos ao fundo. A resposta veio em tom áspero: um policial aparece, insulta a mulher, ordena que se retire e fecha a porta. Pouco depois, mais tiros são registrados.
De acordo com a Secretaria de Segurança Pública (SSP), o jovem morto era suspeito de envolvimento com tráfico de drogas. Segundo a versão oficial, uma patrulha policial foi recebida a tiros por indivíduos que fugiram, abandonando uma sacola com drogas. Durante a perseguição, o rapaz de 24 anos teria se refugiado em um imóvel, de onde, ainda segundo a corporação, disparou contra os agentes.
A polícia informou que apreendeu uma arma e porções de entorpecentes no local. Os agentes envolvidos tiveram suas armas recolhidas para perícia, e o caso foi registrado como "morte decorrente de intervenção policial" na Delegacia de São Vicente.
Apesar da justificativa oficial, moradores da comunidade contestam a versão policial. Relatos colhidos na região sugerem que a abordagem pode ter extrapolado limites, alimentando suspeitas de possível execução.
A Polícia Civil investiga o caso, incluindo a análise das imagens amplamente compartilhadas, que exibem o cenário caótico da operação. Explosões, tiros e correria entre moradores marcaram o desenrolar da ação no Sambaiatuba, evidenciando o impacto dessas intervenções em áreas já fragilizadas por desigualdades sociais e econômicas.
O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) foi acionado para socorrer o jovem. Após tentativas de reanimação, ele foi encaminhado ao Pronto-Socorro Central de São Vicente, mas não resistiu.
Incidentes como este levantam questionamentos sobre protocolos de uso da força policial, especialmente em territórios onde a presença do Estado se limita a ações ostensivas e repressivas. Para moradores do Dique do Sambaiatuba, o evento não foi apenas uma tragédia familiar, mas um reflexo de um padrão que coloca comunidades inteiras sob suspeita.
As imagens de uma mãe suplicando por acesso ao filho, misturadas ao som de tiros, reverberam como um símbolo de dor e impotência. A frase "eles estão matando meu filho" se junta ao eco de outras denúncias semelhantes, alimentando debates sobre segurança pública, direitos humanos e responsabilidade do Estado.
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