Inovação tecnológica em São Vicente é recolhida sob alegação de irregularidades, e proprietário acusa excesso de rigor das autoridades
O carro anfíbio de Caio Strumiello, que unia inovação e tecnologia, agora está sob custódia da Capitania dos Portos, em São Vicente. Foto: Reprodução/Redes Sociais. |
Um veículo que parecia saído de um filme de ficção científica chamou atenção nas últimas semanas ao transitar entre a areia e o mar na Praia do Gonzaguinha, em São Vicente. Criado pelo mecânico Caio Strumiello, de 53 anos, o carro anfíbio despertou curiosidade e admiração, mas também atraiu a atenção das autoridades. Agora, a invenção está longe do mar, estacionada na sede da Capitania dos Portos, após ser apreendida por suposta irregularidade.
A justificativa apresentada para o recolhimento foi a ausência de licença para navegação, um requisito obrigatório para qualquer embarcação que transite em águas brasileiras. A Capitania, responsável por regular e fiscalizar o tráfego marítimo, classificou o veículo como inapto para operar devido à falta de documentação que ateste sua segurança e adequação ambiental.
O carro anfíbio, resultado de dois meses de trabalho intenso, foi projetado por Caio para se deslocar tanto em terra quanto na água. Segundo o mecânico, os motores do veículo são completamente isolados, ficando abaixo do nível do mar e protegidos de qualquer contato direto com a água, uma estrutura que, segundo ele, impede vazamentos de óleo ou poluentes.
A Guarda Civil Municipal (GCM) chegou a ser acionada para verificar se o veículo apresentava riscos ambientais ou à segurança pública. Após inspeção, o órgão não constatou ameaças evidentes, mas isso não foi suficiente para evitar a apreensão.
"Trabalho com a montagem de veículos há mais de uma década e sempre segui todas as normas. Não entendo por que meu carro anfíbio foi recolhido sem sequer me darem a chance de regularizar a situação", afirmou o mecânico.
Na tentativa de reaver o veículo, Caio anunciou que ingressará com uma ação judicial contra a Capitania dos Portos. Segundo ele, a apreensão foi arbitrária e ignorou aspectos técnicos que provam a viabilidade de sua criação. Contudo, um entrave jurídico adicional complica o caso: o mecânico não possui documentação (da própria criação) oficial do veículo, algo exigido para o registro e operação de qualquer embarcação.
Sem o registro, o carro anfíbio não pode ser licenciado, o que torna a situação um impasse que combina inovação, burocracia e interpretação normativa.
O episódio reacende o debate sobre como o Brasil trata inventores independentes e projetos inovadores. Enquanto iniciativas como a de Caio podem ser vistas como soluções criativas e sustentáveis, a ausência de regulamentações específicas muitas vezes desestimula a inovação, empurrando inventores para a clandestinidade ou forçando-os a enfrentar batalhas judiciais dispendiosas.
A Capitania dos Portos, por sua vez, reforça que seu papel é garantir a segurança das pessoas e a preservação ambiental, cumprindo normas que não podem ser flexibilizadas.
Resta saber se a Justiça brasileira permitirá que o carro anfíbio volte a navegar ou se a invenção ficará condenada a permanecer fora d’água.
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