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Malabarismos da segurança: Governo de SP celebra microscópica frota policial para gigantesco Estado

Com pompa e circunstância, 31 novas viaturas são apresentadas como reforço à segurança pública, enquanto a matemática básica expõe a colossal desproporção

A conta não fecha: enquanto a PM celebra 31 novas viaturas, 645 municípios aguardam reforço na segurança em São Paulo. Foto: Polícia Militar de São Paulo.

Em uma cerimônia marcada por discursos otimistas e a presença de autoridades do cenário da segurança pública nacional e estadual, a Polícia Militar do Estado de São Paulo (PMESP) recebeu, nesta quinta-feira (28), um reforço em sua frota com a entrega de 31 novas viaturas. A aquisição, realizada através de recursos do Fundo Nacional de Segurança Pública (FNSP), foi apresentada como um marco para o fortalecimento da segurança e do atendimento à população paulista. Contudo, uma análise mais detida dos números revela um cenário que beira o tragicômico, dada a extensão territorial e a complexidade demográfica do estado.

São Paulo, a locomotiva do Brasil, ostenta a impressionante marca de 645 municípios, distribuídos em 42 regiões de governo, 14 regiões administrativas e três regiões metropolitanas. Diante desta vastidão, a chegada de meras 31 viaturas soa como uma gota d'água no oceano das necessidades de segurança pública. A propaganda oficial, ao vangloriar este acanhado incremento, ignora a gritante desproporção que coloca em xeque a efetividade de qualquer plano de segurança abrangente para o estado.

Detalhando a distribuição, a PMESP informou que 15 veículos serão destinados à Ronda Escolar, com um investimento total de R$ 2.948.250. Outras 15 viaturas integrarão o projeto V.I.D.A., voltado ao monitoramento de medidas protetivas, também com o mesmo montante de investimento. Adicionalmente, uma solitária viatura, ao custo de R$ 334 mil, será designada ao 3º Batalhão de Policiamento Ambiental para atender comunidades quilombolas em áreas de difícil acesso.

A matemática, implacável, expõe a fragilidade da celebração. Dividindo o número de municípios pelo total de novas viaturas, constata-se que cada veículo, em tese, seria responsável por atender as demandas de aproximadamente 20,8 municípios. Uma conta que ignora a distância geográfica entre eles, a densidade populacional, a criminalidade específica de cada região e a própria logística operacional da polícia.

A cerimônia de entrega contou com a presença do Comandante-Geral da Polícia Militar, Coronel Cássio Araújo de Freitas, do secretário Nacional de Segurança Pública, Mario Sarrubbo, e da diretora do FNSP, Camila Pintarelli. Em seus discursos, as autoridades certamente enalteceram o esforço e o investimento realizado. No entanto, paira no ar a inevitável questão: como 31 viaturas podem impactar significativamente a segurança de um estado com a magnitude e a complexidade de São Paulo?

A resposta, parafraseando o óbvio, é que o impacto será, na melhor das hipóteses, limitado a algumas áreas específicas. Enquanto a propaganda oficial busca inflacionar a importância desta tímida aquisição, a realidade nos mostra que a vasta maioria dos municípios paulistas continuará a depender da infraestrutura preexistente, muitas vezes já defasada e insuficiente.

A iniciativa de destinar veículos para a Ronda Escolar e para o projeto V.I.D.A. é, sem dúvida, louvável em sua intenção. Contudo, a escala da ação parece quase irrisória diante da dimensão dos desafios. A mesma lógica se aplica à viatura destinada ao policiamento ambiental em comunidades quilombolas, uma necessidade específica que, embora importante, representa uma parcela mínima das demandas de segurança em todo o estado.

Em suma, a entrega de 31 novas viaturas para a Polícia Militar de São Paulo, embora represente um incremento pontual, expõe de forma crua a colossal disparidade entre os recursos disponíveis e as necessidades de segurança de um estado com 645 municípios. A propaganda oficial, ao tentar transformar esta modesta aquisição em um grande feito, soa como uma piada de mau gosto para a população que anseia por segurança efetiva e abrangente.

Resta saber se, para o próximo anúncio, a matemática básica será levada em consideração, ou se continuaremos a presenciar a celebração de esforços que, na prática, mal arranham a superfície dos problemas.



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