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Bacalhau do crime: Carga de R$ 2 milhões é roubada em Guarujá e flagrante revela "galpão do peixe podre" em Santos

Operação criminosa sequestrou motorista, mobilizou polícia entre três cidades e terminou com prisão de quadrilha descarregando produto roubado, em Santos

Galpão em Santos onde parte da carga milionária de bacalhau foi encontrada pela polícia; odor forte de peixe ajudou a localizar o esconderijo improvisado dos criminosos. Foto: Divulgação/Polícia Militar.

Nem as 25 toneladas de bacalhau norueguês escaparam do apetite voraz do crime organizado que atua no litoral paulista. O que parecia ser mais uma madrugada silenciosa entre caminhões, contêineres e o vai-e-vem portuário transformou-se em um episódio cinematográfico – ou, dependendo da lente, uma tragicomédia do submundo logístico. Uma carga avaliada em R$ 2 milhões foi o prêmio de uma operação milimetricamente orquestrada por criminosos que, por pouco, não desapareceram com todo o cardume.

O assalto teve início por volta das 3h da manhã desta quinta-feira (17), quando o motorista de um caminhão aguardava, em frente ao terminal Movecta, no Guarujá, para carregar a carreta com caixas de bacalhau. O que o condutor não esperava era que, em plena madrugada, um homem encapuzado e armado surgiria do nada para anunciar um assalto com a nada reconfortante expressão: "fita dada".

O termo, conhecido no jargão criminoso como indicação de golpe previamente planejado, foi o prelúdio de uma ação coordenada. O bandido embarcou na cabine e, com a arma apontada, obrigou o caminhoneiro a seguir suas ordens. Mesmo sob ameaça, a vítima seguiu o procedimento regular: entrou no terminal, carregou as 25 toneladas de peixe e deu partida – agora, com um novo "chefe" no banco do passageiro.

Conduzido sob coação, o motorista foi levado até o bairro São Manoel, em Santos. Ali, em uma rua deserta, o plano avançou para o segundo ato: ele foi forçado a abandonar o caminhão e entrar em um carro, já ocupado por outro membro da quadrilha. O destino: um lugar qualquer de Itanhaém, onde o homem foi finalmente libertado, por volta das 5h30.

Caminhou até o primeiro sinal de civilização – um posto do Corpo de Bombeiros – e relatou o sequestro e roubo. Enquanto isso, o roubo da vez já movimentava as forças policiais da Baixada.

Àquela altura, o Centro de Operações da Polícia Militar (Copom) já havia sido alertado e localizou o caminhão sem o contêiner na Rua Professor Francisco Meira, em Santos. A descoberta parcial revelou o esqueleto do crime: o caminhão vazio, sem vestígios do paradeiro da valiosa carga marítima.

Mas foi uma denúncia sobre um odor nada sutil de peixe que conduziu os policiais até a Rua Almirante Vivaldo Cheola, no bairro Chico de Paula, também em Santos. No local, um galpão com a porta entreaberta exalava um aroma inconfundível de bacalhau – que, apesar de nobre, ali parecia mais próximo do escândalo do que do prato típico de Páscoa.

No interior do espaço, a cena era quase surreal: quatro homens descarregavam os produtos roubados como se estivessem em plena rotina operária. Mas o conteúdo do galpão não parava por aí. Foram encontrados dois bloqueadores de sinal de rádio/GPS – tecnologia comumente usada para impedir o rastreamento de cargas –, três detectores de GPS, um telefone celular e três eppendorfs contendo cocaína. Ingredientes de um menu criminal variado.

Nenhum dos detidos assumiu a propriedade de qualquer item – nem do peixe, nem dos dispositivos, nem do pó branco. Todos foram presos e encaminhados, com direito a transporte escoltado, ao 5º Distrito Policial de Santos. O caminhão e os objetos recolhidos também seguiram para perícia.

Após as diligências e as formalidades da investigação inicial, a carga de bacalhau foi devolvida ao proprietário – o verdadeiro, desta vez. Até mesmo o celular do motorista, levado durante o crime, retornou às mãos de seu dono.

A vítima prestou depoimento na delegacia, mas não conseguiu reconhecer nenhum dos suspeitos como os autores do sequestro e roubo. Ainda assim, as circunstâncias e o flagrante consolidaram a prisão do grupo.

O episódio, que mistura o roubo de uma carga sofisticada, dispositivos de alta tecnologia e a presença de entorpecentes, revela um retrato amargo da realidade portuária na Baixada Santista. O contrabando de cargas de alto valor – de eletroeletrônicos a produtos alimentícios de luxo – movimenta cifras milionárias e envolve estratégias cada vez mais ousadas, desafiando as autoridades locais e testando os limites da segurança logística.

O caso segue sob investigação. Enquanto isso, fica o alerta: no litoral paulista, até o bacalhau – tradicionalmente consumido nesta data – pode acabar no altar do crime.



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