Em assembleia histórica, categoria rejeita reajuste irrisório de 5% proposto pelo TJSP e denuncia defasagem superior a 30%
A tensão entre os servidores e a administração do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) atingiu um ponto crítico nesta sexta-feira (11). Cerca de 600 funcionários, representando diversas comarcas do estado e unidades da capital, reuniram-se em uma expressiva assembleia geral na Praça João Mendes, coração do judiciário paulistano, e aprovaram, por votação, a deflagração de uma greve geral a partir do dia 14 de maio. A medida drástica é uma resposta direta à política salarial do TJSP, considerada insuficiente e desconectada da realidade inflacionária e das perdas acumuladas pela categoria.
A mobilização, que paralisou parcialmente as atividades de muitos setores durante o dia, foi marcada por discursos contundentes e um sentimento generalizado de indignação. Liderada por José Gozze, presidente da Associação dos Servidores do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (Assetj), da Federação das Entidades de Servidores Públicos do Estado de São Paulo (Fespesp) e da Pública Central do Servidor, a assembleia serviu como um termômetro do profundo descontentamento que permeia o funcionalismo. Gozze, ao lado de outros diretores da Assetj como Margarida Falcão, Geraldo Martins, Diógenes Francelino e Raquel Di Falco, enfatizou a necessidade de demonstrar à cúpula do Tribunal a insatisfação com a proposta de reajuste salarial apresentada.
O cerne da discórdia reside na oferta de apenas 5% de aumento, percentual que os servidores classificam como simbólico diante de uma defasagem salarial que, segundo cálculos apresentados pelas entidades representativas, alcança a marca de 30,24%. Este índice reflete as perdas inflacionárias acumuladas ao longo de anos sem a devida recomposição, erodindo o poder de compra daqueles que são a engrenagem fundamental para o funcionamento da máquina judiciária.
Durante os debates acalorados, um ponto nevrálgico emergiu repetidamente: o contraste gritante com a situação remuneratória dos magistrados. Servidores denunciaram o que percebem como um tratamento desigual, onde juízes e desembargadores, cujos subsídios estão atrelados a mecanismos próprios de reajuste e não sofrem com a mesma corrosão, mantêm seus rendimentos protegidos, enquanto a base do funcionalismo, sobrecarregada e essencial, amarga perdas significativas. A percepção de um "abismo salarial" e de um descaso institucional alimentou a revolta e fortaleceu a decisão pela paralisação.
A assembleia deliberou sobre diferentes estratégias, incluindo propostas de iniciar a greve em data posterior (26 de maio) para maior tempo de mobilização ou adotar uma "greve branca" (permanência no local de trabalho sem execução das tarefas). Contudo, prevaleceu a opção por um prazo mais curto, estabelecendo o dia 14 de maio como data limite para que o TJSP apresente uma proposta concreta e satisfatória de recomposição salarial. Uma assembleia virtual foi agendada para o dia 13 de maio, véspera do prazo final, para avaliar eventuais avanços ou confirmar o início da paralisação.
Como demonstração imediata de força e disposição ao diálogo, os servidores aprovaram a realização de uma passeata simbólica até o Palácio da Justiça, sede administrativa do TJSP, ainda na sexta-feira. O objetivo foi protocolar um ofício diretamente ao Presidente do Tribunal, comunicando formalmente as deliberações da categoria e a iminência da greve caso as reivindicações por uma recomposição justa não sejam atendidas.
A amplitude da mobilização ficou evidente pela lista de comarcas representadas, abrangendo desde Adamantina e Araçatuba, no interior distante, até cidades da região metropolitana como Osasco, Santo André e Guarulhos, além de polos regionais como Campinas, Ribeirão Preto e Santos. Da Baixada Santista se fizeram presentes os serventuários de Santos, Praia Grande, Itanhaém e São Vicente. Na capital, servidores de fóruns centrais e regionais, como João Mendes, Barra Funda, Itaquera e Santo Amaro, marcaram presença, indicando uma adesão capilarizada.
O cenário agora é de expectativa. Caso a administração do TJSP não apresente uma nova proposta que contemple, de forma mais substancial, a recuperação das perdas salariais apontadas pelos servidores, o maior tribunal do país poderá enfrentar uma paralisação de grandes proporções em meados de maio, impactando o andamento de processos e o atendimento ao público em todo o estado de São Paulo. A categoria demonstra união e firmeza, apostando na greve como último recurso para romper a inércia e buscar a valorização que consideram devida e essencial para a manutenção de um serviço público de qualidade.
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