Governo Tarcísio contradiz laudo do IML e sustenta versão de tiro acidental, gerando polêmica sobre episódio na Baixada
Na tarde calorenta de 16 de fevereiro deste ano, o destino de Luan dos Santos, um atendente de farmácia de 32 anos, foi brutalmente interceptado durante um passeio rumo à praia com amigos. O que deveria ser um momento de descontração transformou-se em tragédia quando uma abordagem da Polícia Militar na rodovia Anchieta, em Santos, resultou na morte do jovem, atingido por disparos que não cessaram sua vida imediatamente. Esse episódio, marcado por uma série de controvérsias e versões conflitantes, expõe não apenas a brutalidade de um sistema, mas também a complexidade de investigações em um contexto político.
A versão oficial apresentada pelo major envolvido na operação policial alegou que o disparo fatal foi um trágico acidente, resultante de uma frenagem abrupta da viatura durante a abordagem. Essa narrativa, rapidamente corroborada pela gestão do governador Tarcísio de Freitas, foi a tônica adotada para encerrar o caso, inserindo-o na obscura estatística da chamada Operação Verão, cuja letalidade ultrapassou registros históricos no estado de São Paulo. No entanto, a recente divulgação do laudo pericial realizado pelo Instituto Médico Legal (IML) lança luz sobre uma realidade distinta e angustiante.
Contrariando a versão oficial, o laudo forense revelou que Luan dos Santos não foi atingido por um, mas sim por dois disparos. Os ferimentos descritos no documento revelam uma trajetória de violência que contradiz categoricamente a alegação de um simples "tiro acidental". Com uma precisão científica inabalável, o médico-legista Riscalla Brunetti Cassis desvela a verdade crua por trás da morte de Luan, expondo a falácia de uma narrativa convenientemente construída para justificar um ato de violência letal.
Contudo, a resposta do governo Tarcísio a essa revelação não apenas surpreende, mas também levanta sérias questões sobre a integridade do processo investigativo e o comprometimento com a transparência e a justiça. Ao invés de acolher os resultados da perícia técnica como elementos fundamentais para o esclarecimento dos fatos, a Secretaria de Segurança Pública (SPP) optou por uma estratégia de negação e distorção dos eventos, desafiando a própria lógica e a evidência científica.
A declaração emitida pela SPP, ao refutar o laudo do IML, revela uma atitude alarmante e inaceitável por parte das autoridades responsáveis pela segurança pública. O ato de desmentir uma análise forense baseada em fatos tangíveis, simplesmente para sustentar uma narrativa previamente estabelecida, mina a confiança da população nas instituições e expõe as fissuras de um sistema que prioriza interesses políticos sobre a verdade e a justiça.
Além disso, o caso de Luan dos Santos evidencia uma dinâmica recorrente e perturbadora no contexto da segurança pública brasileira: a propagação de versões fantasiosas e mirabolantes para encobrir a brutalidade de ações policiais injustificáveis. As discrepâncias entre os relatos das testemunhas oculares e as justificativas oferecidas pelos agentes envolvidos ressaltam a urgência de uma investigação imparcial e rigorosa, capaz de responsabilizar os culpados e garantir que episódios como esse não se repitam.
Diante desse panorama desolador, é imperativo que a sociedade civil e as instâncias responsáveis pela aplicação da lei exijam uma resposta concreta e transparente das autoridades competentes. A busca pela verdade e pela justiça em casos de violência policial não é apenas um imperativo moral, mas também um compromisso inalienável com os direitos humanos e a dignidade de cada indivíduo. Que a morte de Luan dos Santos não seja apenas mais uma estatística sombria em meio à impunidade, mas sim um catalisador para a mudança e a transformação de um sistema que insiste em falhar com aqueles que jurou proteger.
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