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Guarujá e colapso da educação: Quando professores viram alvos e a indiferença é a regra

 A recente agressão a uma professora em Guarujá expõe o descaso com os educadores e levanta questões sobre a responsabilidade dos gestores públicos

Professores em protesto em frente à prefeitura de Guarujá pedem respeito e segurança no exercício de sua profissão.

No cenário de uma cidade turística que ostenta suas belezas naturais, o que deveria ser motivo de orgulho cede lugar a uma triste realidade: a agressão a uma professora motivou um protesto em frente à prefeitura de Guarujá. O episódio, por si só grave, é apenas a ponta do iceberg de uma crise muito mais profunda, que envolve não só a segurança dos profissionais da educação, mas também o desmonte de uma categoria que, há muito, carrega o sistema nas costas. 

A pergunta que não cala é: como chegamos ao ponto em que professores — figuras outrora respeitadas e fundamentais para o desenvolvimento de qualquer sociedade — passaram a ser tratados com tamanho descaso, não só por parte dos alunos, mas também por quem deveria zelar por sua integridade? Talvez a resposta esteja justamente na forma como a educação vem sendo tratada nos últimos anos, como um setor de segunda classe, relegado à burocracia e à eterna promessa de melhorias que jamais saem do papel.

Seria cômodo reduzir o recente ataque a uma professora de Guarujá a um "incidente isolado", como os representantes públicos costumam chamar situações desconfortáveis que revelam falhas profundas no sistema. No entanto, qualquer pessoa minimamente atenta sabe que episódios de violência em ambientes escolares têm se tornado cada vez mais comuns. E não se trata apenas de agressões físicas. A violência psicológica, a desvalorização salarial e a falta de condições de trabalho também são formas de agressão, ainda que menos visíveis.

Os protestos em frente à prefeitura surgiram como um grito de socorro, um pedido de atenção em meio a um cenário de indiferença. Aliás, quem foi que decidiu que professores devem estar dispostos a arriscar sua saúde física e mental para educar? E por que os gestores públicos, quando confrontados, seguem no velho discurso de "compromisso com a educação" enquanto os números mostram o contrário?

A falta de proteção aos professores é reflexo de uma gestão que parece mais interessada em questões de fachada do que em resolver os problemas estruturais da educação. Aliás, as belezas naturais de Guarujá, tão amplamente divulgadas para atrair turistas, contrastam com a precariedade de suas escolas. Quem imaginaria que, atrás dos panfletos e propagandas, professores estariam sendo agredidos no exercício de sua função? Talvez essa seja uma metáfora perfeita para o tratamento dispensado à educação no país: por fora, uma imagem bonita e vendável; por dentro, o caos.

É difícil acreditar que os responsáveis pela administração pública estejam realmente comprometidos com a melhoria da educação quando os investimentos no setor seguem minguados, e as escolas se tornam palcos de violência, ao invés de centros de aprendizado. E não adianta culpar apenas os alunos — esses são reflexos do ambiente em que estão inseridos, de uma sociedade que já não respeita mais a figura do professor como deveria.

O problema de desrespeito aos professores é, infelizmente, uma consequência previsível de décadas de políticas equivocadas e da negligência com o sistema educacional. Não se trata apenas de um problema localizado em Guarujá; essa é uma realidade que se repete em várias cidades pelo país, independentemente do tamanho ou localização. A pergunta é: até quando? Quantas agressões mais serão necessárias para que se tome uma atitude de verdade? Quantos protestos precisarão acontecer para que se pare de tratar a educação como um problema secundário?

As respostas para essas perguntas, ao que tudo indica, ainda estão longe de serem respondidas. Enquanto isso, seguimos com os mesmos discursos, as mesmas promessas vazias e, claro, com os mesmos "incidentes isolados", que nada mais são do que uma bomba-relógio prestes a explodir.

Mas, por enquanto, seguimos com o espetáculo de sempre: protestos, notas de repúdio, promessas de investigação e uma administração pública que parece mais preocupada em tapar o sol com a peneira do que em enfrentar os problemas de frente. Enquanto isso, quem pode paga escola particular; quem não pode, reza para que o próximo "incidente isolado" não aconteça na sua escola.



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