Após três dias de angústia, idoso é resgatado, mas a precariedade da segurança e a ausência de políticas públicas eficazes para áreas de mata colocam vidas em risco
Equipe de resgate encontra idoso após três dias desaparecido na Mata Atlântica de Itanhaém, expondo o despreparo das autoridades locais. |
Na cidade de Itanhaém, um episódio de alta tensão tomou conta da população local e da Baixada Santista. Um idoso de 65 anos, após desaparecer em uma trilha na densa e traiçoeira Mata Atlântica, foi encontrado após três longos dias de buscas incessantes. Apesar do desfecho aparentemente feliz, o caso levanta questionamentos perturbadores sobre a segurança de áreas naturais e o despreparo das autoridades para lidar com situações de emergência na região.
Na última sexta-feira, o idoso, cujo nome não foi divulgado por questões de privacidade, decidiu fazer o que muitos moradores e turistas fazem ao visitar Itanhaém: uma caminhada por uma das trilhas que cortam a Mata Atlântica. A floresta, exuberante e rica em biodiversidade, há tempos é um atrativo turístico. No entanto, sua densidade e vastidão também fazem dela um ambiente perigoso para quem não está adequadamente preparado ou acompanhado.
A falta de sinalização adequada, somada à ausência de guias ou serviços de apoio ao visitante, é uma receita para tragédias. Em um piscar de olhos, o que deveria ser um passeio para desfrutar a natureza se tornou um pesadelo de três dias. Três dias em que familiares e amigos do idoso sofreram com o medo do pior, enquanto as equipes de resgate enfrentavam desafios típicos de operações em áreas de difícil acesso e com poucos recursos disponíveis.
Após 72 horas de buscas exaustivas, que contaram com o apoio do Corpo de Bombeiros, voluntários e até mesmo de cães farejadores, o idoso foi encontrado vivo, mas em estado de desidratação e exaustão. Ele foi imediatamente encaminhado para atendimento médico e, felizmente, não corre mais risco de vida. No entanto, o resgate, longe de ser apenas um final feliz, evidenciou a fragilidade do sistema de resposta a emergências em regiões de mata.
Embora as equipes envolvidas no salvamento tenham sido eficientes e comprometidas, o fato de o resgate ter levado três dias revela um problema muito mais profundo. A logística deficiente, a falta de equipamentos de ponta e o reduzido número de profissionais treinados são questões que não podem mais ser ignoradas.
O desaparecimento do idoso em Itanhaém não é um caso isolado. Episódios semelhantes vêm se repetindo em diversas áreas de proteção ambiental no Brasil. No entanto, a pergunta que ecoa entre especialistas e defensores da segurança pública é: onde estão as políticas preventivas? Em um país com vastas áreas de florestas e matas, é inaceitável que não haja um planejamento robusto e eficaz para evitar tais situações.
O turismo ecológico, embora valioso do ponto de vista econômico, parece ser tratado com desleixo pelas autoridades. O mínimo que se esperaria são trilhas sinalizadas, postos de informação, sistemas de rastreamento para visitantes e campanhas educativas sobre os perigos de adentrar essas áreas sem orientação. Contudo, a realidade é muito mais dura. Frequentemente, locais como a Mata Atlântica de Itanhaém são vistos como atrativos naturais "abandonados", onde qualquer ação preventiva parece inexistente.
Para além da comoção gerada pela história de um idoso encontrado vivo após três dias perdido, há uma reflexão que precisa ser feita urgentemente. Até quando continuaremos a negligenciar a segurança em áreas de preservação? Quantas vidas mais serão postas em risco antes que políticas públicas eficazes sejam implementadas? A cada novo caso de desaparecimento, a resposta das autoridades é a mesma: "Estamos investigando", "Providências serão tomadas". Mas, na prática, o que vemos é o abandono de regiões que deveriam ser um exemplo de preservação e segurança.
Infelizmente, a combinação entre o descaso e a falta de investimentos adequados faz da Mata Atlântica não só um santuário ecológico, mas também um campo minado para os despreparados. Sem infraestrutura, sem fiscalização, sem um plano de emergência decente, o cenário tende a piorar.
O resgate do idoso em Itanhaém é um exemplo de superação individual, mas também um lembrete cruel de que a negligência das autoridades continua colocando vidas em risco. O mínimo que se espera, após mais um caso de grande repercussão, é que o poder público acorde para a necessidade urgente de se garantir a segurança em áreas naturais. Porque, na próxima vez, o final pode não ser tão feliz.
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