Investigação da PF e forças internacionais desarticula rede de mergulhadores especializados que, a serviço do PCC, infiltravam drogas em embarcações
Polícia Federal realiza a Operação Taeguk para combater o tráfico internacional de drogas no Porto de Santos. |
Em uma nova e contundente etapa na luta contra o tráfico internacional de entorpecentes, a Polícia Federal (PF) lançou hoje, quinta-feira (7), a Operação Taeguk, que tem como alvo uma complexa rede criminosa de inserção de drogas em embarcações nos principais portos do Brasil. Liderado pela facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital), o esquema usava como epicentro o Porto de Santos, o maior da América Latina, de onde toneladas de cocaína e maconha eram enviadas para mercados internacionais, especialmente na Europa e na África, onde geram receitas milionárias para o crime organizado.
A operação, que mobiliza 200 agentes federais em um esforço conjunto e hercúleo, ocorre não apenas na capital paulista, mas também em diversos municípios do litoral de São Paulo, como Santos, Guarujá, São Vicente, Praia Grande, Bertioga, Caraguatatuba e Paraibuna. Mandados de prisão e busca foram expedidos e, ao todo, são cumpridos 10 mandados de prisão e 39 de busca e apreensão, atingindo também os estados do Rio de Janeiro, Pará e Maranhão.
O que mais chamou a atenção das autoridades foi a estrutura peculiar do grupo, que incluía mergulhadores profissionais com alto nível de conhecimento em operações subaquáticas. Esses indivíduos eram contratados pelo PCC para colocar grandes quantidades de drogas nos chamados "sea chests" — compartimentos submersos na estrutura dos navios. Atuando nas áreas de fundeio dos portos, onde os navios aguardam para atracar, os mergulhadores escondiam a droga em caixas hermeticamente lacradas, de modo a resistir às intensas pressões do mar e às longas distâncias transoceânicas.
Essa estratégia, que revela um alto grau de sofisticação e organização, contava com o apoio de mergulhadores estrangeiros que aguardavam a chegada das embarcações nos portos de destino para a retirada da carga ilícita. Até o momento, ao menos sete operações semelhantes foram interceptadas pela PF em 2024, totalizando mais de uma tonelada de entorpecentes apreendida.
A complexidade da operação do PCC transcende a atuação dos mergulhadores. Investigações revelaram que, em alguns casos, o transporte de drogas dependia também de uma rede de colaboradores a bordo dos próprios navios. Este “núcleo interno” operava com métodos de içamento, um processo pelo qual a droga era colocada em locais estratégicos das embarcações com o auxílio de membros da tripulação. Esse nível de infiltração demonstra o grau de articulação e a extensão da influência do PCC, capaz de cooptar tripulantes para atuar diretamente no contrabando.
O alcance da Operação Taeguk ultrapassa as fronteiras do Brasil. A investigação contou com apoio da Polícia Militar, da Marinha do Brasil, do escritório do DEA em São Paulo, e de autoridades de países parceiros, como Coreia do Sul, China e Espanha. A cooperação internacional foi fundamental para desmantelar essa rede globalizada de tráfico, uma vez que muitos dos destinos finais das drogas são portos estrangeiros.
As autoridades informaram que os envolvidos no esquema responderão por diversos crimes, incluindo tráfico transnacional de drogas, associação para o tráfico e organização criminosa. As penas previstas ultrapassam 35 anos de reclusão, especialmente pelo agravante de transnacionalidade dos delitos.
O Porto de Santos, pela sua dimensão e importância econômica, é historicamente um dos principais pontos de escoamento do tráfico no Brasil. Suas operações intensas e grande volume de contêineres são atrativos para organizações criminosas, que se valem do alto fluxo de cargas para ocultar entorpecentes. A Operação Taeguk, portanto, representa uma medida estratégica de combate ao tráfico de drogas e à corrupção estrutural que permeia o comércio marítimo, não apenas no Brasil, mas também em escala global.
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