Jovem de São Vicente é vítima de aplicação ilegal de lentes dentárias em residência; CROSP alerta para risco de "estética" feita por leigos
Adolescente enfrenta tratamento para reparar danos em dentes após aplicação de lentes de resina feita por pessoa sem formação odontológica em São Vicente. |
A promessa de um sorriso perfeito se transformou em pesadelo para Agatha Yolanda Nascimento dos Santos Caires, uma adolescente de 17 anos, que agora carrega as marcas físicas e emocionais de uma intervenção feita por quem claramente não tinha competência para realizá-la. A jovem, moradora de São Vicente, viu seus dentes serem desgastados e, posteriormente, necrosados, após confiar em uma mulher sem qualquer formação em odontologia para realizar a aplicação de lentes de resina — procedimento este reservado exclusivamente a profissionais qualificados e licenciados.
O drama começou em junho deste ano, quando a adolescente, incentivada pelo pai, decidiu realizar o procedimento com uma pessoa identificada como Andreza Aline Gasparini Lima. Agatha pagou R$ 1 mil para que o suposto "tratamento" fosse feito na residência da mulher, acreditando que receberia um trabalho de qualidade. Mas, o que a jovem encontrou foi o contrário: falta de higiene, materiais que lembravam utensílios de manicure e uma série de descuidos que culminaram em danos irreparáveis aos seus dentes.
A adolescente foi apresentada à prestadora de serviços através de seu pai, que realizava obras para Andreza. Ele queria dar um presente à filha, sem suspeitar que a suposta profissional não tinha qualquer qualificação odontológica. "Ele [o pai] conversou com ela sobre o valor das lentes, porque eu queria colocar e já estava procurando um profissional", disse a jovem, enfatizando que ninguém imaginava o desastre que viria a seguir.
Andreza teria inicialmente cobrado R$ 1,2 mil, mas aceitou reduzir o preço para R$ 1 mil, dos quais metade foi descontada do trabalho do pai de Agatha e o restante pago via Pix. O procedimento, feito em condições precárias, mostrou-se problemático já nos primeiros dias: três lentes se soltaram logo após a aplicação, e a prestadora culpou a própria adolescente pela falta de "cuidados".
Durante o procedimento, Agatha notou que alguns dos instrumentos usados por Andreza lembravam utensílios de manicure, o que a deixou em alerta. Ao questionar, a prestadora afirmou que "parecia, mas eram profissionais". Esse detalhe, somado ao ambiente improvisado, evidenciava a falta de preparo e o risco de um procedimento claramente fora dos padrões sanitários e técnicos necessários.
Mas o pior ainda estava por vir. Poucos dias após o procedimento, a adolescente passou a sentir dores na gengiva e notou o escurecimento de seus dentes, sinais claros de que algo estava terrivelmente errado. Ela, então, decidiu compartilhar fotos do resultado com sua irmã, estudante de odontologia, que imediatamente orientou que procurasse uma clínica para remover as lentes aplicadas.
Foi apenas em uma clínica odontológica que a gravidade da situação foi confirmada: Agatha estava com necrose pulpar e óssea, uma condição séria e irreversível. A jovem agora enfrenta um longo e custoso tratamento odontológico, tendo que lidar com o trauma de ver seus dentes, aos 17 anos, permanentemente comprometidos. “Estou bem triste, né? Com 17 anos estou com o dente assim, escuro e feio. É horrível", desabafou.
Diante das complicações, Agatha ainda tentou entrar em contato com Andreza, que, sem qualquer responsabilização, negou ter causado os problemas. A mulher chegou a alegar que a jovem teria feito outros procedimentos que comprometeram seus dentes, numa tentativa de escapar das consequências de seus atos.
O Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (CROSP) se pronunciou sobre o caso, ressaltando que apenas cirurgiões-dentistas licenciados podem realizar procedimentos odontológicos como a aplicação de lentes de resina. O órgão destacou que tais intervenções requerem conhecimentos técnicos e estruturais específicos, além de um ambiente clinicamente seguro — algo que evidentemente não era o caso na residência de Andreza.
Casos como o de Agatha refletem uma triste realidade: o aumento de procedimentos estéticos realizados por leigos, atraídos pelo apelo de preços reduzidos e a promessa ilusória de melhorias estéticas. O CROSP reitera a necessidade de maior fiscalização e punição rigorosa para os que, sem qualificação, colocam em risco a saúde e a vida de pessoas com intervenções desastrosas e muitas vezes irreversíveis.
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