Mudança polêmica gera revolta entre defensores dos direitos de autistas, animais e idosos
Fogos de artifício iluminam o céu de Praia Grande enquanto controvérsias sobre sua regulamentação continuam em alta. |
Em uma decisão que acendeu debates fervorosos e desencadeou uma onda de críticas, a prefeita de Praia Grande, Raquel Chini, revogou a lei que proibia o manuseio, a instalação, a utilização, a queima e a soltura de fogos de artifício, com ou sem estampidos, em áreas públicas como praias, calçadões, ruas e praças. O decreto, oficializado em 11 de dezembro, veio à tona a poucos dias da virada do ano, reacendendo uma velha chama de polêmica sobre o impacto dos fogos de artifício nos mais vulneráveis.
A medida, antes considerada um avanço na proteção de grupos sensíveis como autistas, idosos e animais, foi abruptamente anulada, deixando um rastro de indignação entre organizações de defesa animal e famílias de pessoas com transtornos sensoriais. Segundo especialistas, o barulho provocado pelos fogos pode desencadear crises severas em pessoas com transtorno do espectro autista (TEA), agravar condições de saúde em idosos com patologias graves e causar pânico em animais, muitas vezes resultando em ferimentos ou fugas.
A revogação da lei contrasta com uma tendência crescente em diversas cidades brasileiras que têm adotado normas mais restritivas em relação ao uso de fogos de artifício, privilegiando alternativas silenciosas. Para os críticos, a decisão representa um retrocesso em termos de responsabilidade social e empatia, desconsiderando as conseqüências negativas que ultrapassam o campo do lazer.
Enquanto isso, setores favoráveis à revogação sustentam que os fogos de artifício fazem parte da tradição das festas de fim de ano, marcando momentos de alegria e comunhão. Contudo, esse argumento tem encontrado cada vez menos eco diante da evolução de um debate que privilegia soluções mais inclusivas.
Para quem vive próximo à orla ou depende de hospitais situados em áreas de maior concentração populacional, como os localizados próximos à praia, o impacto do barulho é especialmente preocupante. Hospitais e casas de repouso, que abrigam idosos com condições crônicas, podem ser diretamente afetados pelo aumento da poluição sonora.
Animais também são severamente atingidos: os estouros podem desencadear ataques de pânico, acidentes e até mortes. Segundo dados da ONG Proteção Animal Paulista, o número de animais desaparecidos costuma dobrar em períodos de festividades que incluem queima de fogos.
A decisão não passou despercebida. Redes sociais foram inundadas por comentários de indignação e pedidos de reconsideração. Uma petição online, que já acumula milhares de assinaturas, exige que a prefeitura restabeleça a proibição ou, ao menos, promova um debate mais amplo com a população afetada.
Por ora, a virada do ano em Praia Grande promete ser marcada por mais do que fogos de artifício: o barulho da discórdia e do descontentamento ecoará tanto quanto os estampidos que cruzarão os céus da cidade. Entre tradição e empatia, uma coisa é certa: o silêncio é a única coisa que não será ouvida.
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