Em Praia Grande, a honra do juramento de cuidar foi trocada por ouro
Pronto-Socorro Central de Praia Grande, onde o juramento de salvar vidas foi eclipsado pelo brilho do ouro. Foto: Prefeitura de Praia Grande. |
Uma história surreal de descaso e irresponsabilidade emergiu neste domingo (12) no Pronto-Socorro Central de Praia Grande. Um técnico de enfermagem de 36 anos foi preso em flagrante, acusado de furtar uma correntinha de ouro de um paciente internado após um acidente de trânsito. Apesar de rapidamente liberado após o pagamento de fiança, o impacto da situação expõe uma falha ética e moral em uma instituição cuja função deveria ser salvar vidas, não pilhar bens.
O caso começou na manhã de domingo, quando a família do paciente acidentado percebeu a ausência de sua correntinha de ouro, uma herança com profundo valor sentimental. A família recebeu um saquinho contendo um pingente, mas não a corrente. Ao questionar a equipe médica, ouviu desculpas vagas e contraditórias. A verdade veio à tona em um local improvável: uma padaria no bairro Boqueirão.
Ali, a madrasta do paciente flagrou o técnico e outros membros da equipe de plantão "comemorando" com cerveja e passando a correntinha de mão em mão, em um espetáculo grotesco de desrespeito. O técnico chegou a oferecer o objeto como mercadoria, sugerindo um preço de R$ 500, uma tentativa última de lucrar com o sofrimento alheio.
Na delegacia, o técnico apresentou uma história improvável: teria comprado a corrente de um homem em situação de rua por R$ 70 e um cigarro. Essa versão contradiz o depoimento dos familiares, que afirmam que o objeto foi visto no pescoço do motorista da ambulância, este também acusado de receptar o item furtado. Para a polícia, o técnico negou envolvimento direto com o paciente, atribuindo a culpa a outros profissionais do hospital.
O boletim de ocorrência registrou o caso como receptação, e o objeto foi devolvido à família. Ainda assim, o técnico pagou fiança de R$ 5 mil para responder em liberdade, enquanto a instituição e a prefeitura prometem "apuração".
O Complexo Hospitalar Irmã Dulce informou que a situação está sendo investigada, enquanto a Prefeitura de Praia Grande aguarda os desdobramentos oficiais. Entretanto, a resposta institucional parece uma piada de mau gosto diante da gravidade do ocorrido. Uma instituição de saúde que deveria ser um santuário de proteção tornou-se palco de um crime baixo e cínico.
A postura do hospital, de aguardar uma "apuração" ao invés de punir severamente os responsáveis, deixa claro o tamanho do abismo ético que permeia o ambiente. Não se trata apenas de um caso isolado de furto, mas de uma quebra de confiança que lança uma sombra sobre todo o sistema de saúde local.
Como se não bastasse o roubo, a forma como o objeto foi tratado – como um troféu exibido em um circo de irresponsáveis – é um tapa na cara de quem ainda acredita na dignidade humana. Afinal, quantas correntes, carteiras e esperanças mais precisam desaparecer até que a "apuração" resulte em justiça?
Em uma região onde a saúde pública já enfrenta desafios estruturais, a permissividade diante de atos como este apenas reforça a sensação de abandono. As vítimas não são apenas os pacientes, mas todos que depositam esperanças em um sistema já combalido. O que era para ser um local de cura tornou-se uma arena de miséria humana.
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