Denúncia revela condições insalubres graves em unidade de pronto atendimento; gestão da Organização Social é duramente criticada
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Infiltração e mofo comprometem parede em área de circulação do Pronto-Socorro do Samambaia, evidenciando a precariedade estrutural denunciada na unidade. Foto: Alberto Presecatan. |
Um cenário desolador e potencialmente perigoso assombra os corredores do Pronto-Socorro do Samambaia, em Praia Grande. Denúncias graves apontam para a proliferação de mofo e manchas escuras ("pretume") nas paredes de áreas críticas como o acesso à emergência e a ala de medicação. Agravando a situação, o sistema de ar condicionado da unidade apresenta acúmulo visível de poeira, levantando sérias preocupações sobre a qualidade do ar e configurando um grave risco à saúde pública em um ambiente que deveria ser de cuidado e recuperação.
A unidade é administrada pela Organização Social de Saúde Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina (SPDM), entidade que também gerencia outros equipamentos importantes na cidade, como o PS Central e o Complexo Hospitalar Irmã Dulce (Chid). A constatação das condições precárias no PS Samambaia lança, mais uma vez, um olhar crítico sobre a capacidade e o compromisso da SPDM na gestão dos recursos públicos de saúde confiados a ela no município.
Os riscos associados à presença de fungos (mofo) e à má conservação de sistemas de climatização em ambientes de saúde são vastos e cientificamente comprovados. A inalação de esporos de mofo pode desencadear ou agravar severamente condições respiratórias, como rinite alérgica, sinusite e asma. Pacientes com sistema imunológico comprometido, uma parcela significativa dos que buscam atendimento de urgência, ficam expostos a infecções fúngicas oportunistas, como a aspergilose pulmonar, que pode ter consequências fatais.
Adicionalmente, dutos de ar condicionado sujos e sem manutenção adequada transformam-se em reservatórios e disseminadores de ácaros, bactérias (incluindo a Legionella, causadora da Doença dos Legionários), vírus e outros particulados nocivos. Isso não apenas compromete a recuperação dos pacientes, mas também cria um ambiente de trabalho insalubre e perigoso para médicos, enfermeiros, técnicos, auxiliares e demais funcionários, que já lidam diariamente com os riscos inerentes à profissão e agora enfrentam um inimigo invisível na própria estrutura física da unidade.
A denúncia recebida por nossa reportagem classifica a postura da SPDM frente a esses problemas como "inerte" e "irresponsável", acusando a organização de perpetuar um tratamento de "descaso" para com a população de Praia Grande, algo que, segundo a fonte, já se arrastaria por anos. A falta de reparos estruturais básicos, como a higienização e impermeabilização de paredes e a manutenção rigorosa do sistema de ar condicionado, é vista como uma falha administrativa grave que coloca vidas em risco.
Diante da gravidade do quadro exposto, a denúncia clama por uma intervenção imediata e enérgica da Vigilância Sanitária municipal. Argumenta-se que as condições observadas no PS Samambaia extrapolam a mera inadequação, configurando um cenário passível de interdição urgente da unidade, a fim de salvaguardar a saúde coletiva e forçar a realização das reformas necessárias.
Além da esfera sanitária, a situação reacende o debate sobre a eficácia e a transparência do modelo de gestão por Organizações Sociais. A denúncia sugere que o Ministério Público do Estado de São Paulo analise a pertinência da manutenção do contrato com a SPDM, citando um histórico de problemas que incluiria, para além das questões estruturais, eventuais atrasos nos pagamentos de salários médicos e carência de insumos básicos – fatores que, somados, minam a qualidade do atendimento e a confiança no sistema.
A comunidade de Praia Grande, especialmente os usuários do sistema público de saúde, aguarda respostas e ações concretas. A situação no PS Samambaia não é apenas uma questão de infraestrutura, mas um reflexo preocupante da prioridade dada à saúde e ao bem-estar da população e dos profissionais que nela atuam. A resolução deste impasse exige mais do que reparos paliativos; demanda um compromisso sério com a gestão eficiente, transparente e, acima de tudo, humana dos serviços essenciais.
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