Organização movimentou mais de 550 toneladas de cafeína com empresas de fachada e notas fiscais frias; bens de investigados somam R$ 72 milhões
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Máquina de contar cédulas e grande quantia em dinheiro apreendidos pela Polícia Federal durante a Operação Caffeine Break. Foto: Divulgação/Polícia Federal. |
A Polícia Federal (PF) revelou, nesta terça-feira (12), um sofisticado esquema de desvio de produtos químicos voltados para o tráfico de drogas, envolvendo um volume alarmante: mais de 550 toneladas de cafeína foram compradas, ocultadas e repassadas a criminosos sob a fachada de negócios legítimos. A ação, batizada de Operação Caffeine Break, foi deflagrada após meses de investigação conduzida pela Delegacia da PF em São José dos Campos.
De acordo com a apuração, empresas do ramo de suplementos alimentares e energéticos foram usadas como peças centrais na engrenagem criminosa. Elas adquiriam grandes quantidades do produto químico — muito acima de qualquer necessidade comercial plausível — e, por meio da emissão de notas fiscais falsas, direcionavam a mercadoria para organizações ligadas ao narcotráfico.
O alerta surgiu quando a PF identificou movimentações financeiras e logísticas incompatíveis com a realidade de uma dessas empresas, sediada em São José dos Campos. A partir daí, duas outras companhias, também do setor de suplementos, entraram no radar. Nenhuma delas apresentou estrutura ou faturamento que justificasse a compra de tamanha quantidade de cafeína.
A ação policial mobilizou mais de 200 agentes para cumprir 20 mandados de prisão temporária e 51 mandados de busca e apreensão, expedidos pela 3ª Vara Federal de São José dos Campos. As ordens judiciais foram executadas em diversas cidades paulistas, no Rio de Janeiro e também em Santos.
Além das prisões e apreensões, a Justiça determinou 59 bloqueios de contas bancárias e 83 sequestros e bloqueios de bens móveis e imóveis pertencentes aos investigados. O montante estimado dos bens bloqueados chega a impressionantes R$ 72 milhões.
Segundo a PF, a operação expõe não apenas o uso do mercado formal como canal para abastecer o crime organizado, mas também a complexidade das engrenagens financeiras utilizadas para lavar o lucro obtido. A cafeína, embora seja um insumo lícito e amplamente utilizado em suplementos e bebidas energéticas, possui aplicação direta no refino de drogas, especialmente na produção de cocaína, onde atua como agente diluente.
As investigações seguem em andamento para identificar outros possíveis envolvidos e rastrear a destinação final das toneladas de cafeína desviadas. A PF reforça que o combate ao tráfico de drogas exige atenção também sobre os insumos químicos que alimentam essa cadeia criminosa, muitas vezes operando sob disfarces empresariais aparentemente inofensivos.
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