Profissional dedicada a salvar vidas perde a própria em cenário de imprudência e caos viário no litoral paulista
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Local do acidente no km 66,2 da Rodovia dos Imigrantes, em São Vicente, onde a vítima foi atropelada por um ônibus após cair de uma motocicleta. Foto: Divulgação/CCI/Artesp. |
O km 66,2 da Rodovia dos Imigrantes, em São Vicente, se tornou palco de uma cena cruel e irônica na quinta-feira (14): uma técnica de enfermagem do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) de Praia Grande, acostumada a lutar diariamente para preservar vidas, perdeu a própria de forma brutal, vítima da combinação letal de imprudência, pressa e um trânsito cada vez mais hostil.
Segundo a Artesp, a profissional estava na garupa de um mototáxi que seguia pelo corredor da rodovia quando o condutor foi "fechado" por outra moto não identificada. A manobra abrupta levou o motorista a frear de forma brusca, resultando na perda de controle e na colisão contra a traseira de um Ford Ka. O impacto lançou a passageira ao asfalto, exatamente sobre a faixa 2, onde um ônibus vinha logo atrás. Sem tempo para qualquer reação, o coletivo atropelou a vítima, matando-a instantaneamente.
A morte foi confirmada pelo próprio Samu — ironia trágica para quem tantas vezes correu contra o relógio para tentar impedir que outros tivessem o mesmo destino. O Corpo de Bombeiros, desta vez, não foi acionado. Os passageiros do ônibus tiveram de ser transferidos para outro veículo, enquanto o trânsito no sentido sul acumulava mais de 4 km de congestionamento devido à interdição da faixa 2 e do acostamento.
Mais do que um acidente, o caso é um retrato impiedoso da falência da segurança viária: motocicletas disputando espaço no corredor como se a vida fosse descartável, transporte coletivo sem meios para frear diante de imprevistos e a ausência de uma política efetiva de fiscalização e educação no trânsito. Para piorar, o uso de mototáxi — muitas vezes a escolha dos que não podem perder tempo, mas que pagam caro por essa pressa — expõe passageiros a riscos que raramente são plenamente dimensionados.
Uma técnica de enfermagem que dedicava suas jornadas a salvar vítimas de colisões, paradas cardíacas e tragédias nas ruas acabou sendo mais um número nas estatísticas que ela conhecia de cor. O destino não foi apenas cruel; foi um tapa na cara de um sistema que não aprende nem com as mortes daqueles que trabalham para salvar vidas.
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