Entre coquetéis e piscinas, o líder criminoso Rogério Faria da Silva, o Morcegão, foi capturado no Costa Pacifica após dias de ostentação no mar
O cruzeiro Costa Pacifica, palco do luxuoso refúgio temporário do líder do PCC, Morcegão, antes de sua captura em Santos. Foto: Divulgação. |
Na vastidão azul do oceano, onde turistas procuram paz e diversão a bordo do cruzeiro Costa Pacifica, um dos nomes mais temidos do Primeiro Comando da Capital (PCC) decidiu trocar as vielas do crime organizado por coquetéis à beira da piscina. Rogério Faria da Silva, conhecido como Morcegão, foi preso nesta quinta-feira (26/12) no Porto de Santos, durante a Operação Narcos. A prisão, que mais parece roteiro de filme policial, traz à tona como o crime organizado brasileiro encontrou maneiras cada vez mais criativas — e extravagantes — de escapar das garras da lei.
O Costa Pacifica, uma embarcação de 290 metros de comprimento, 35,5 metros de largura e 13 deques repletos de restaurantes, bares e suítes luxuosas, foi palco para os últimos dias de liberdade do criminoso. O navio, que comporta até 3.738 passageiros e 1.110 tripulantes, seguiu sua rotina de entretenimento sem qualquer sinal de que um dos homens mais procurados do país estava entre os hóspedes.
Na estrutura hierárquica do PCC, Morcegão ocupava o posto de torre, responsável por coordenar operações criminosas em Limeira, interior de São Paulo. Sua influência se estendia por um complexo esquema de distribuição de drogas, lavagem de dinheiro e execuções ordenadas com precisão quase militar. Quando a informação de que ele estaria a bordo do Costa Pacifica chegou às autoridades, o plano para capturá-lo foi arquitetado com o cuidado de um relojoeiro suíço.
A chegada do Costa Pacifica ao Terminal de Passageiros Giusfredo Santini, em Santos, foi marcada por um frenesi discreto das autoridades. Enquanto turistas carregavam malas e tiravam selfies, agentes da Divisão de Investigações Gerais (DIG) e da Delegacia de Investigações Sobre Entorpecentes (DISE) se posicionavam estrategicamente para a abordagem.
Morcegão não teve tempo para reação. O líder do crime foi capturado enquanto tentava manter o semblante de mais um turista endinheirado. As operações de embarque e desembarque seguiram normalmente, sem interferência direta no fluxo dos passageiros.
A prisão de Morcegão não foi um caso isolado. Durante a mesma Operação Narcos, outros nomes ligados ao PCC foram capturados. Robinho, gerente direto do chefão, foi encontrado em um imóvel repleto de cocaína, dinheiro, máquinas de contar cédulas e celulares. Um terceiro envolvido, encarregado de transportar as drogas, também foi detido.
Ao todo, 10 mandados de busca e apreensão foram cumpridos em Limeira, resultando na apreensão de mais de 400 tijolos de cocaína, veículos e outros materiais usados pela organização.
A prisão de Morcegão revela não apenas a ousadia dos líderes do crime organizado, mas também a capacidade das autoridades em adaptar suas estratégias. Um navio de cruzeiro, com suas festas temáticas, cassinos e bufês intermináveis, pode parecer um esconderijo perfeito, mas até no paraíso há espaço para a lei.
Entre drinques tropicais e espreguiçadeiras de luxo, Morcegão descobriu que, mesmo em alto-mar, não se pode fugir para sempre.
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