Investigação aponta possível financiamento de campanha por intermediários associados ao crime organizado
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Vereador Marcelo Téo durante sessão na Câmara Municipal de Santos. Foto: Reprodução/Redes Sociais. |
O Ministério Público de São Paulo (MP-SP) protocolou um pedido de cassação do mandato do vereador Marcelo Correia, conhecido como Marcelo Téo (PP), representante de Santos. A ação baseia-se em alegações de que o parlamentar teria recebido doações de campanha provenientes de indivíduos ligados ao Primeiro Comando da Capital (PCC), uma das mais influentes facções criminosas do país.
De acordo com o MP-SP, investigações conduzidas pela promotoria local, em conjunto com o Núcleo de Inteligência e Gestão de Conhecimento e o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), revelaram que Marcelo Téo teria sido beneficiado por contribuições financeiras de pessoas associadas ao PCC durante sua campanha eleitoral de 2024. O órgão destaca um "entrelaçamento da rede de doadores com o crime organizado", sugerindo que os recursos empregados na campanha possivelmente tenham origem ilícita.
Entre os doadores questionados estão a filha da atual esposa do vereador, que contribuiu com R$ 9 mil, e o namorado de uma sobrinha, responsável por uma doação de R$ 7 mil. Além disso, José Eduardo Gomes da Silva, empresário e antigo proprietário de uma empresa de distribuição de medicamentos e materiais hospitalares, que já empregou familiares do parlamentar, aportou R$ 7 mil à campanha. O MP-SP aponta que essas contribuições podem ter sido realizadas por "laranjas" da facção criminosa, configurando uma "triangulação de valores" que indicaria a contaminação dos recursos de campanha por atividades ilícitas, como tráfico de drogas e lavagem de dinheiro.
A promotoria enfatiza que os indícios sugerem que o financiamento da campanha de Marcelo Téo esteve intrinsecamente ligado a atividades criminosas de natureza grave, comprometendo a integridade do processo eleitoral. O MP-SP argumenta que a presença de doações sem lastro financeiro legítimo e a ligação dos doadores com o crime organizado reforçam a necessidade de cassação do mandato do vereador.
Marcelo Téo é irmão de Moacir Levi Correia, conhecido como "Bi da Baixada", preso em 2014 e apontado como responsável pela expansão do PCC para o estado de Santa Catarina. Essa conexão familiar adiciona uma camada de complexidade às acusações, sugerindo possíveis vínculos diretos entre o parlamentar e a facção criminosa.
A defesa do vereador nega veementemente qualquer irregularidade nas doações recebidas durante a campanha. Em nota, afirma que "eventuais suspeitas lançadas sobre a origem de doações já foram devidamente esclarecidas no âmbito judicial, oportunidade na qual foram espontaneamente apresentados comprovantes de rendimentos e declarações do imposto de renda dos doadores, comprovando-se a regularidade da campanha". A defesa também ressalta que não há decisão definitiva que comprometa o mandato de Marcelo Téo e que confia plenamente na Justiça para a apuração dos fatos.
O caso levanta questões profundas sobre a influência do crime organizado no cenário político local e a integridade dos processos eleitorais. A possível infiltração de recursos ilícitos em campanhas políticas ameaça a legitimidade das instituições democráticas e evidencia a necessidade de mecanismos mais robustos de fiscalização e transparência no financiamento eleitoral.
A Justiça Eleitoral de São Paulo analisará as evidências apresentadas pelo Ministério Público e a defesa do vereador antes de tomar uma decisão sobre a possível cassação do mandato. Enquanto isso, o episódio serve como um alerta sobre os desafios contínuos na luta contra a corrupção e a influência do crime organizado na política brasileira.
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