Garupa sobrevive a cena cinematográfica após colisão violenta; caso escancara riscos do transporte por aplicativos sobre duas rodas
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Itens pessoais e vestígios do acidente ficaram espalhados pela via após o impacto que arremessou o garupa sobre o teto de um carro, em São Vicente. Foto: Reprodução/Internet. |
Um acidente de trânsito que poderia ter terminado em tragédia virou símbolo de uma série de negligências rotineiras que se desenrolam sob o sol da Baixada Santista. Na manhã da última quarta-feira (16), por volta das 9h45, um jovem de 28 anos foi arremessado sobre o teto de um carro após a motocicleta em que viajava colidir violentamente contra a traseira de um automóvel na Avenida Presidente Wilson, bairro Itararé, em São Vicente.
O impacto da cena chocou quem testemunhou. O passageiro, identificado como Gustavo Soares, era garupa de uma moto de aplicativo e foi lançado por sobre o veículo atingido, como se tivesse saído de uma sequência de filme de ação, porém sem os efeitos especiais — e com consequências reais. Apesar do susto, Gustavo teve apenas ferimentos leves e foi levado consciente ao Pronto-Socorro Central, assim como o motociclista, de 33 anos, que sofreu escoriações no rosto.
A cena pode parecer espetaculosa, mas o roteiro é conhecido e preocupante: profissionais sobre duas rodas pressionados por metas, apps que operam sem supervisão eficaz e um trânsito cada vez mais hostil. As motocicletas, que se tornaram símbolo de agilidade urbana, transformaram-se também em protagonistas de estatísticas alarmantes envolvendo colisões e mortes. O caso desta semana apenas reforça essa tendência sombria.
A Secretaria de Saúde do município se ateve ao protocolo e, respaldada pelo Código de Ética Médica, recusou-se a fornecer mais detalhes sobre o estado clínico dos envolvidos. A lacuna, no entanto, foi preenchida pelas redes sociais, onde o próprio garupa prestou contas do que viveu: “Fui arremessado no momento do impacto com o carro, mas passei por atendimento médico – inclusive um super atendimento – e graças a Deus está tudo bem. Por mais que ele (o condutor) tenha sido descuidado, espero que esteja bem também”, escreveu.
O trânsito na região foi parcialmente interditado, segundo a Secretaria de Mobilidade Urbana (Semob), mas o impacto na fluidez viária foi mínimo. Já a Polícia Militar registrou o episódio como "acidente de trânsito com vítima", sem, contudo, fornecer maiores detalhes sobre as circunstâncias da colisão. A Secretaria de Segurança Pública (SSP) do Estado de São Paulo afirmou não ter localizado registros com as informações repassadas.
Entre as falhas no monitoramento das plataformas de transporte e a crônica omissão do poder público frente ao caos urbano, a colisão desta quarta-feira soa como mais um alerta ignorado. São os corpos dos trabalhadores — e dos usuários — que continuam a amortecer o choque da omissão.
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