Sem comunicação aos órgãos ambientais, megaprojeto em Praia Grande levanta alertas sobre riscos ao Parque Xixová-Japuí e desrespeito às normas de proteção
O anúncio da construção do novo Centro de Treinamento (CT) do Santos Futebol Clube em Praia Grande, saudado por muitos como um avanço na modernização do futebol profissional do clube, também revelou uma faceta obscura: a possibilidade de que o projeto, com mais de 90 mil metros quadrados, avance sobre áreas de Mata Atlântica protegida sem o devido processo legal.
Ambientalistas soaram o alarme assim que os primeiros detalhes vieram à tona, especialmente pela proximidade do empreendimento com os limites do Parque Estadual Xixová-Japuí — uma das poucas unidades de conservação remanescente em zona urbana da Baixada Santista. Em nota oficial publicada recentemente, a administração do parque — gerida pela Fundação Florestal — afirmou categoricamente que “não recebeu nenhuma solicitação formal de manifestação ou comunicação por parte dos órgãos licenciadores competentes” sobre o novo CT. A ausência de consulta prévia fere diretamente a Resolução CONAMA 428/2010, que regula o licenciamento ambiental em áreas de entorno de unidades de conservação.
O silêncio das autoridades municipais, da CETESB e até do IBAMA é revelador. Projetos desse porte, ainda que sustentados por recursos privados, não podem prescindir do rigor ambiental. A lei não distingue quem paga a conta: exige, sim, obediência ao processo legal, especialmente quando se trata de uma região de Mata Atlântica, bioma constitucionalmente protegido e historicamente ameaçado por empreendimentos imobiliários e infraestrutura urbana sem critérios.
O Santos FC, em sua comunicação oficial, enfatiza que o complexo será moderno, tecnológico e sustentável. Inclui campos de treinamento, alojamentos, refeitórios, academia e departamento médico, além da promessa de harmonia com a natureza — uma retórica comum, mas que, sem garantias concretas e fiscalização rigorosa, soa como marketing verde para suavizar o impacto real da construção.
O projeto, batizado de CT Vila Praia Grande, ainda prevê parcerias com universidades estrangeiras e uso compartilhado com empresas como a NR Sports e o Grupo Peralta. Essas mesmas entidades também planejam erguer, no mesmo complexo, a chamada Arena PG, com capacidade para 25 mil pessoas. A grandiosidade do plano impressiona, mas também escancara o risco de que a urbanização continue avançando sem freios sobre o que resta da vegetação nativa da Baixada.
A região costeira de Praia Grande já sofre com pressão imobiliária, expansão urbana desordenada e ineficiência histórica no controle do uso do solo. Permitir que um projeto desta magnitude avance sem sequer informar os responsáveis por uma unidade de conservação vizinha não é apenas negligência: é um desprezo flagrante pela legislação ambiental e pelas gerações futuras.
Enquanto o clube acelera o cronograma com a promessa de entregar o novo espaço em um ano, cresce a cobrança da sociedade civil para que o projeto seja imediatamente submetido a avaliação técnica transparente. O que está em jogo não é apenas o destino do futebol profissional do Santos, mas o equilíbrio ecológico de uma área sensível e já demasiadamente ameaçada.
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