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Justiça tardia, dor perpétua: Réu é condenado a mais de quatro décadas por feminicídio e tentativa em Itanhaém

Quase três anos após o brutal ataque que ceifou uma vida e deixou outra marcada pela paralisia, o acusado recebeu a sentença em júri popular

Réu na delegacia, quando da prisão pelo feminicídio e tentativa de feminicídio em Itanhaém. Foto: Reprodução/Internet.

Em um desfecho aguardado e carregado de simbolismo, o homem acusado de assassinar a esposa e de tentar matar a cunhada, deixando-a paraplégica em um episódio de violência extrema ocorrido em julho de 2022, na cidade de Itanhaém, foi condenado a 44 anos de reclusão. A decisão, proferida pelo Tribunal do Júri na última quinta-feira (20), encerra uma etapa dolorosa para as famílias das vítimas, mas não apaga as cicatrizes profundas deixadas pela tragédia.

O crime hediondo, ocorrido no Jardim Oásis, teve como vítimas Maria da Conceição, esposa do réu, que não resistiu aos ferimentos causados por golpes de arma branca, e sua irmã, Amazia Guedes, que teve a medula espinhal atingida, resultando em paralisia dos membros inferiores. A violência brutal, motivada por razões que a Justiça qualificou como fúteis e agravada pela impossibilidade de defesa das vítimas, escancarou mais uma vez a face cruel do feminicídio e da violência doméstica no país.

Após o ataque, o agressor tentou evadir-se da responsabilidade, fugindo do local do crime. Contudo, a ação rápida das autoridades policiais culminou em sua detenção, momento em que confessou a autoria dos atos. O longo processo judicial que se seguiu culminou no julgamento popular, onde a complexidade do caso e a dor dos envolvidos vieram à tona através dos depoimentos de testemunhas, incluindo a própria filha do réu.

A sentença condenatória imposta a Neto, como o acusado foi identificado, abrange o homicídio qualificado de Maria da Conceição, com as qualificadoras de motivo fútil, recurso que impossibilitou a defesa da vítima e em contexto de feminicídio, no âmbito da violência doméstica e familiar. Adicionalmente, os jurados reconheceram a tentativa de feminicídio contra Amazia Guedes, então com 71 anos, que conviveu com as sequelas da violência até seu falecimento, há cerca de quinze dias, em decorrência de complicações de saúde, especificamente uma infecção urinária. A morte de Amazia, embora não diretamente imputada ao réu na presente condenação, adiciona uma camada ainda mais sombria à história, evidenciando o impacto duradouro da violência sofrida.

Em seu depoimento, o réu alegou ter agido impulsivamente, após uma visita da cunhada. Segundo a promotora de Justiça Ana Claudia Budal Arins, o acusado teria mencionado um suposto envolvimento amoroso de Amazia, trazida de São Paulo para Itanhaém por um namorado, como o gatilho para a sua fúria. Essa alegação, no entanto, não atenuou a gravidade dos crimes perante o Conselho de Sentença, que reconheceu a brutalidade e a natureza covarde dos ataques.

O registro policial do dia 27 de julho de 2022 detalha a cena macabra encontrada pelos policiais militares que atenderam à ocorrência. Ao chegarem à residência da família, depararam-se com Maria da Conceição caída na calçada, apresentando ferimentos nas costas. Informações de testemunhas indicavam que a outra vítima se encontrava no interior do imóvel. Maria foi prontamente socorrida e encaminhada ao Hospital Regional Jorge Rossmann, mas não resistiu à gravidade dos ferimentos. Amazia, por sua vez, foi encontrada em estado grave e conduzida ao Complexo Hospital Irmã Dulce, em Praia Grande, onde os médicos constataram que a lesão na coluna vertebral havia causado a paralisia dos membros inferiores.

A condenação, embora represente um marco na busca por justiça para Maria da Conceição e Amazia Guedes, levanta questionamentos sobre a persistência da violência de gênero e a necessidade de políticas públicas mais eficazes para a proteção das mulheres. A frieza dos atos, a motivação trivial alegada e as consequências devastadoras para as vítimas e suas famílias expõem a fragilidade da vida diante da cultura de violência ainda presente na sociedade.

A longa pena imposta ao réu serve como um alerta severo, mas a luta contra o feminicídio e a violência doméstica exige um esforço contínuo e coletivo, que vá além da punição dos agressores e alcance a prevenção e o apoio às vítimas.



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