PMR flagra transporte de droga na Rodovia Cônego Domenico Rangoni e escancara o subemprego no crime organizado: risco alto, lucro baixo
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Droga apreendida durante operação policial na Rodovia Cônego Domenico Rangoni, em Cubatão; carga seguia do Guarujá para Campinas. Foto: Divulgação/Polícia Militar Rodoviária. |
A rodovia Cônego Domenico Rangoni, em Cubatão, foi palco de mais um episódio digno de roteiro de cinema de quinta categoria, daqueles em que o protagonista acredita ser o astro do tráfico, mas mal consegue pagar o almoço com o que recebe. Um homem foi preso na manhã desta terça-feira (20), após ser flagrado transportando pouco mais de três quilos de cocaína em um carro popular que, ironicamente, já carrega no nome a ideia de simplicidade: um Renault Kwid.
Segundo informações da Polícia Militar, o veículo chamou a atenção dos agentes do Tático Ostensivo Rodoviário (TOR) logo na praça de pedágio — talvez pela ansiedade transbordando do condutor, ou pela habitual cara de quem tem mais a esconder do que a declarar. Após a abordagem, os policiais encontraram três tabletes de cocaína cuidadosamente escondidos atrás do banco do passageiro, como se aquele espaço fosse um cofre de banco suíço.
Ao lado do motorista, uma passageira. Revistada, nada foi encontrado com ela. Livre de culpas, seguiu viagem — talvez mais aliviada do que surpresa com o rumo da história. Já o condutor, sem muito talento para roteiro ou mistério, confessou prontamente que levaria a encomenda até Campinas. O valor do serviço? R$ 1.200. Isso mesmo: mil e duzentos reais por arriscar a liberdade, a vida e virar manchete de jornal.
Do Guarujá ao fracasso
O trajeto partia do Guarujá, passando por Cubatão e com destino a Campinas — uma linha reta de decisões ruins, selada por uma promessa de pagamento que mal cobre o preço de uma multa por excesso de velocidade. A Polícia Militar afirma que o homem não revelou quem o contratou, tampouco para quem o entorpecente seria entregue. Nada novo no mundo do tráfico de baixa patente, onde o código de silêncio se mantém firme, mesmo quando a fidelidade custa décadas atrás das grades.
Com exatos 3,296 quilos de cocaína apreendidos, o caso foi encaminhado ao Distrito Policial de Santos, onde a burocracia do crime continua seu rito: depoimentos formais, apreensão registrada, e mais uma ficha criminal alimentando as estatísticas da falência da guerra às drogas.
Operação Saturação: efeito colateral do subemprego
A prisão ocorreu no contexto da "Operação Saturação", promovida pelo TOR, cujo nome sugere exatamente o que se vê nas estradas paulistas: uma saturação de pequenos traficantes, mulas humanas e tentativas desesperadas de lucro rápido. A ironia maior está na matemática do risco: uma carga que pode render milhões aos peixes grandes, mas que paga menos que o salário mínimo para quem a carrega com o próprio CPF.
E assim segue o teatro cotidiano do tráfico de drogas no Brasil: jovens (e nem tão jovens) tentando seu lugar no submundo, com promessas de lucro fácil e finais previsíveis. Uns voltam para casa. Outros, como o motorista do Kwid, estacionam direto na cela.
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