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Visitante de peso: Onça-parda passeia tranquila por condomínio em Peruíbe e vira estrela da noite

Câmeras registram o felino de quase dois metros em bairro residencial; especialistas alertam sobre perda de habitat e pedem cautela — e nada de selfies

Registro das câmeras de segurança mostra onça-parda passeando tranquilamente pelas ruas do condomínio Bosque Três Marias, em Peruíbe, durante a madrugada. Foto: Reprodução/Câmeras de segurança.

Não era um gatinho. Também não era um cachorro perdido ou um visitante peludo qualquer. O que circulou com total desenvoltura pelas ruas do condomínio Bosque Três Marias, em Peruíbe, foi nada menos que uma onça-parda — também conhecida como puma ou suçuarana —, um dos maiores felinos do continente. E ela desfilou na calada da noite, em plena segunda-feira (26), sem pressa, como quem conhece o terreno.

O flagrante foi registrado pelas câmeras de segurança do condomínio e rapidamente se espalhou pelas redes sociais, gerando uma mistura de pânico, admiração e memes. Afinal, não é todo dia que um morador de quatro patas e quase dois metros de comprimento resolve dar uma voltinha em área urbana — mesmo que às margens da mata atlântica.

Onde há fumaça, há floresta

Segundo o instituto Ambiecco, de proteção ambiental e com atuação local em Peruíbe, a visita da onça-parda, embora rara, tem explicação. O condomínio está encravado em uma região crítica de transição entre áreas urbanizadas e um dos maiores remanescentes de Mata Atlântica do Estado de São Paulo, bem ao lado da estrada Padre Manuel da Nóbrega e vizinho do Parque Estadual da Serra do Mar. É o que os ambientalistas chamam de "zona de conflito ecológico".

"O animal provavelmente estava tentando se deslocar em busca de alimento ou uma rota segura e acabou entrando na área do condomínio. A presença de humanos e a iluminação intensa normalmente afastam esses animais, mas a pressão sobre o habitat está fazendo com que eles se aproximem cada vez mais das cidades", afirmou a organização.

Uma sombra na noite — e um alerta para todos

A onça-parda é um animal naturalmente solitário, de hábitos noturnos e extremamente furtivo. O que significa que, se um exemplar foi visto, há uma grande possibilidade de que outros estejam por perto — e que essa não tenha sido a primeira visita.

A Prefeitura de Peruíbe publicou uma nota tranquilizando os moradores e informando que a espécie, apesar do tamanho imponente, evita o contato humano e não costuma demonstrar agressividade. Mas não é porque ela é tímida que deve ser subestimada.

"Não tente se aproximar, não faça barulho, e principalmente: não tente filmar de perto. O ideal é acionar imediatamente a Polícia Ambiental ou os órgãos responsáveis pela fauna silvestre", orientou a prefeitura.

A fera invisível: cada vez mais comum nas bordas das cidades

A onça-parda (Puma concolor) é o segundo maior felino das Américas, perdendo apenas para a onça-pintada. No Brasil, estima-se que restem cerca de 4.000 indivíduos em vida livre. Mas esse número pode estar em declínio, justamente por causa dos conflitos com a ocupação humana. As ameaças vão desde o desmatamento — que destrói seus corredores naturais — até o atropelamento e o abate por medo ou prevenção em áreas rurais e periurbanas.

"É um erro pensar que esses animais estão 'invadindo' as cidades. Na verdade, somos nós que estamos invadindo seus habitats. As fronteiras entre floresta e cidade estão cada vez mais tênues, e o resultado disso são aparições como essa", explica um biólogo ligado ao Parque Estadual da Serra do Mar.

O que fazer (ou não fazer) caso você se depare com um felino de respeito

Apesar do susto que a ideia de cruzar com uma onça-parda possa causar, especialistas reforçam que ataques a seres humanos são extremamente raros. O comportamento padrão do animal é evitar o confronto a qualquer custo. Mas isso não significa que você deva se comportar como num documentário do Animal Planet.

Se encontrar um desses bichos por aí, lembre-se: não corra, não grite e não tente bancar o herói ou o influencer. Recolha-se com calma, entre em segurança em casa ou no carro, e acione as autoridades. A Polícia Militar Ambiental ou o Corpo de Bombeiros podem orientar sobre os procedimentos adequados.

 A cidade e a selva: coexistência possível?

O episódio em Peruíbe é mais um capítulo de uma história que vem se tornando comum em diversas regiões do país, especialmente nas bordas da Mata Atlântica. Jaguatiricas, tamanduás, quatis e até jacarés vêm sendo vistos com frequência nos limites das áreas urbanizadas.

Esse tipo de situação exige mais do que apenas susto e manchete. Requer políticas públicas de planejamento urbano integradas à conservação da fauna, educação ambiental nas comunidades e investimento em corredores ecológicos que permitam aos animais se deslocarem sem esbarrar em muros, cercas elétricas e faróis de carros.

Enquanto isso não acontece, a floresta seguirá mandando seus representantes para lembrar que, sim, ela ainda existe — mesmo que espremida entre o asfalto e o concreto.


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