Johannes Kennedy Santana sobreviveu a um tiro no pescoço durante operação em comunidade da zona sul de São Paulo
![]() |
Cabo Johannes Kennedy Santana recebe a Láurea de Mérito Pessoal em 1º grau, cercado por colegas e autoridades, em cerimônia no Quartel do Comando Geral da PM. Foto: Divulgação/SSP/SP. |
A manhã do dia 14 de agosto foi marcada por emoção e reverência no Quartel do Comando Geral da Polícia Militar de São Paulo. Em cerimônia solene, o cabo Johannes Kennedy Santana, baleado durante uma abordagem em Paraisópolis, recebeu a Láurea de Mérito Pessoal em 1º grau — a mais alta condecoração concedida pela corporação. O reconhecimento, além de celebrar a coragem do policial, reacende discussões sobre os perigos enfrentados por agentes de segurança pública em territórios marcados pela desigualdade e pela violência.
O episódio que levou Santana à honraria ocorreu durante uma operação de rotina na comunidade de Paraisópolis, zona sul da capital paulista. Ao abordar dois suspeitos envolvidos em uma série de roubos, o cabo foi surpreendido por um disparo à queima-roupa. O projétil atingiu seu pescoço, colocando sua vida em risco imediato. Mesmo ferido, o policial conseguiu acionar o resgate e foi transportado pelo helicóptero Águia ao Hospital das Clínicas, onde permaneceu em observação por 24 horas antes de receber alta.
A cerimônia de entrega da láurea contou com a presença do secretário da Segurança Pública, Guilherme Derrite, e do comandante-geral da PM, coronel José Augusto Coutinho. Em seu discurso, Coutinho destacou a raridade de homenagens em vida dentro da corporação:
"Na PM, quando vamos exaltar heróis, infelizmente, fazemos isso entregando uma bandeira dobrada para a família do policial. Ainda bem que dessa vez não aconteceu dessa forma".
Além de Santana, os policiais envolvidos na operação de resgate — pertencentes ao 1º e 16º Batalhão Metropolitano e ao Comando de Aviação da PM — também foram homenageados com certificados de honra. O gesto reconhece a agilidade e o comprometimento dos agentes que contribuíram para salvar a vida do colega.
Emocionado, Santana refletiu sobre o episódio e seu impacto pessoal:
"São situações como essa que a gente passa a dar mais valor a pequenos momentos na vida, como o tempo com a família. O médico pegou meu exame de tomografia, olhou pra mim e disse que foi um milagre".
O reconhecimento não se limita à condecoração. O secretário Derrite assinou um documento que abre sindicância para avaliar a promoção de Santana por ato de bravura, o que pode elevá-lo ao posto de sargento. Segundo Derrite, o ato reúne todos os elementos que caracterizam a bravura: coragem, audácia, energia e firmeza de ação.
Desde 2015, Santana já vinha se destacando dentro da corporação, sendo eleito policial do mês em diversas ocasiões e participando de ocorrências de alto impacto. Seu histórico reforça a legitimidade da possível promoção e o coloca como exemplo para a tropa.
Enquanto isso, as investigações sobre o caso seguem em curso no 89º Distrito Policial, no Jardim Taboão. Dois suspeitos já foram presos. Um deles, detido por posse ilegal de arma de fogo, é apontado como possível participante do crime. O outro, capturado pelo Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), teria ajudado o autor do disparo a fugir, levando consigo a arma do policial ferido — posteriormente recuperada.
A violência contra agentes de segurança pública em áreas de vulnerabilidade social como Paraisópolis levanta questões complexas sobre o papel do Estado, o treinamento policial e a relação com a comunidade. Embora a homenagem a Santana seja justa e necessária, ela também evidencia os riscos diários enfrentados por profissionais que atuam na linha de frente do combate ao crime.
Em um país onde a segurança pública é frequentemente alvo de críticas e disputas políticas, reconhecer a bravura sem romantizar o perigo é um equilíbrio delicado — mas essencial.
0 Comentários