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Ricardo Nunes e o escândalo das creches: A realidade por trás do Palácio

 Prefeito de São Paulo admite uso de laranjas em empresa envolvida em desvios de verbas públicas

O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes. As investigações continuam sobre o suposto esquema de desvio de recursos públicos.

O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), encontra-se no centro de uma investigação que expôs um esquema complexo e perturbador de desvio de recursos públicos destinados à educação infantil. Em depoimento à Polícia Federal (PF) em julho de 2022, Nunes admitiu ser o verdadeiro administrador de uma empresa registrada em nome de sua esposa e filha, suspeita de receber dinheiro desviado de contratos da Prefeitura com entidades que gerenciam creches na capital paulista.

A empresa em questão, Nikkey Serviços, supostamente recebeu transferências de uma "noteira" - termo utilizado para designar empresas que emitem notas fiscais frias - utilizada no esquema de desvio. Em 2018, a Nikkey Serviços teria recebido R$ 20 mil dessa empresa, de propriedade de Francisca Jacqueline Oliveira Braz. Além disso, dois cheques totalizando R$ 11,6 mil foram depositados diretamente na conta pessoal de Nunes.

O depoimento de Nunes foi colhido como parte de um inquérito que investiga o desvio de recursos através de creches terceirizadas. Em seu relato à PF, Nunes afirmou que sua esposa, Regina, e sua filha, Mayara, eram apenas sócias formais da Nikkey Serviços e que não participavam da administração da empresa. Segundo ele, a gestão ficava a cargo de seu irmão, Robson Nunes de Gouveia, e de seu amigo, Eduardo de Souza e Silva. Regina corroborou essa versão em seu próprio depoimento, afirmando que apenas assinava documentos trazidos por seu marido e que não exercia nenhum ato administrativo.

No entanto, a situação se complica quando se considera o envolvimento da Associação Amigos da Criança e do Adolescente (Acria), que recebeu R$ 1,3 milhão da empresa de Jacqueline. A Acria gerencia oito creches na zona sul de São Paulo, reduto eleitoral de Nunes, e era presidida por Elaine Targino da Silva, ex-auxiliar administrativa da Nikkey Serviços. O relatório da PF aponta que a Acria recebeu R$ 78 milhões da Prefeitura entre 2018 e 2021, período investigado.

Em seu relatório, o delegado Adalto Machado sublinha a necessidade de continuidade das investigações, especialmente em relação à organização social Acria e ao envolvimento de Nunes. O prefeito nega qualquer irregularidade e insiste que todas as transações foram lícitas, justificando os depósitos como pagamentos por prestação de serviços.

A situação se agrava com o indiciamento de 111 pessoas suspeitas de participação no esquema, aumentando a pressão sobre Nunes e sua administração. O prefeito, por ter direito a foro especial, tem o privilégio de ser julgado por tribunais superiores. No entanto, o Tribunal Regional Federal da 3ª Região (TRF-3) decidiu que o caso deve ser julgado considerando o período em que Nunes era vereador, anterior à sua posse como prefeito.

O caso de Ricardo Nunes levanta questões profundas sobre a ética na gestão pública e o uso de laranjas para ocultar a verdadeira titularidade de empresas envolvidas em contratos públicos. A investigação revela uma teia complexa de relações e transações que desafiam a transparência e a integridade esperadas de um gestor público.

Enquanto as investigações continuam, o impacto deste escândalo na administração municipal e na confiança pública é inegável. A sociedade exige respostas claras e ações concretas para garantir que recursos destinados à educação e ao bem-estar das crianças não sejam desviados para interesses pessoais e políticos.


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