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Mongaguá: Furtar para pagar dívidas; o Brasil onde o crime vira solução econômica

 Dois homens foram detidos após furtar uma casa em Mongaguá; a justificativa surpreendente revela a trágica matemática do crime

Objetos recuperados pela polícia após furto em Praia Grande. Dupla alegou que o crime foi cometido para pagar uma dívida de R$ 4 mil.

Em Mongaguá, dois homens foram detidos em flagrante após invadirem uma residência e justificarem o crime com a necessidade de quitar uma dívida de R$ 4 mil. 

A Polícia Militar de Mongaguá, em patrulhamento, notaram uma movimentação suspeita de dois indivíduos que já haviam feito a limpa em ua residência, e carregavam, nas costas, eletrodomésticos, objetos de valor e uma boa dose de imbecilidade. Afinal, o planejamento brilhante para o crime não incluía algo simples como passar despercebido.

Quando confrontados, a resposta dos criminosos; ambos afirmaram que o furto foi motivado por uma dívida de R$ 4 mil, valor esse que, a julgar pela tranquilidade com que abordaram a situação, parecia justificar todo o esquema. Uma dívida, aliás, que deve ter sido contraída da maneira mais corriqueira possível, já que no Brasil, dever parece estar entre os passatempos favoritos da população.

O Brasil de hoje é o país onde, para muitos, dever já se tornou tão comum quanto respirar. Segundo dados recentes, mais de 70% das famílias brasileiras estão endividadas. O problema é que, enquanto alguns recorrem a saídas tradicionais, como a renegociação bancária, outros enxergam no crime uma "solução" imediata e sem taxas de juros. Só que, diferentemente do banco, a polícia não costuma mandar boletos. Manda viaturas.

É irônico observar que, no mundo da criminalidade, a lógica das justificativas vai se tornando cada vez mais sofisticada – e, ao mesmo tempo, mais trágica. O furto de uma residência se transforma, em suas cabeças, numa espécie de "empréstimo não autorizado". Em vez de passar pela burocracia de instituições financeiras, que cobram juros extorsivos e dificultam o crédito, alguns parecem pensar que o caminho mais "prático" é carregar a geladeira de alguém para acertar as contas com o agiota.

Não é incomum que crimes menores, como o furto, sejam acompanhados de explicações curiosas, como se o delinquente estivesse na fila da defensoria pública para alegar que a infração foi, na verdade, uma necessidade econômica. O que fica implícito nesse tipo de discurso é que, diante de um sistema que constantemente exclui, punir não é suficiente. É preciso entender o contexto que transforma uma dívida pessoal em uma justificativa para o crime.

Entretanto, a naturalização dessa lógica aponta para algo ainda mais complexo: uma sociedade que normaliza a corrupção em seus altos escalões, e onde grandes escândalos financeiros são tratados como parte do noticiário diário, oferece pouca inspiração moral para quem vive à margem. Se o alto escalão desvia milhões sem maiores consequências, o cidadão endividado pode muito bem pensar que um microfurto é apenas uma versão "homeopática" da mesma prática.

Embora os dois homens que protagonizaram o furto em Praia Grande agora enfrentem as consequências de seus atos – sem dúvida, muito mais sérias que um simples pagamento de dívida –, o caso expõe uma faceta triste da vida cotidiana brasileira. Não se trata apenas de um crime comum, mas de um retrato de uma sociedade onde a falência econômica parece permear todos os aspectos, até mesmo a moralidade.

Ao final, fica a dúvida: qual será o próximo passo? Veremos, em breve, justificativas como "roubei porque estava com a fatura do cartão de crédito atrasada" se tornarem lugar-comum? Ou será que as políticas públicas focadas em educação financeira e recuperação de crédito conseguirão, finalmente, diminuir o número de "criminosos por necessidade"?

A única certeza é que, se esse for o Brasil que estamos construindo, onde o crime é explicado como uma solução econômica temporária, estamos, no mínimo, caminhando para uma piada de mau gosto – onde a "punchline" é, mais uma vez, o cidadão comum pagando a conta.



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