Operação rotineira em bairro litorâneo levou à descoberta de estoque de entorpecentes e revelou a engrenagem do tráfico entre Mongaguá e Itanhaém
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Agentes da DISE exibem drogas, arma e materiais apreendidos na residência do suspeito; arsenal químico abastecia o tráfico entre Mongaguá e Itanhaém. Foto: Divulgação/DISE/Polícia Civil. |
O sol ainda rasgava timidamente o céu da quinta-feira (29) quando agentes da Delegacia de Investigações sobre Entorpecentes (DISE) de Itanhaém cruzaram as ruas do bairro Flórida Mirim, em Mongaguá, em mais uma das tantas patrulhas silenciosas que cortam a Baixada Santista. Nada indicava que aquele dia se tornaria um retrato cru da engrenagem que alimenta o tráfico de drogas no litoral paulista.
Entre vielas e olhares desconfiados, um homem chamou a atenção. O nervosismo estampado no rosto e os gestos apressados ao perceber a presença policial foram suficientes para ligar o alerta da equipe especializada no combate ao narcotráfico. Não houve tempo para fuga: após uma breve tentativa de resistência, o jovem de 20 anos foi contido e revistado. Em suas mãos, o primeiro indício de um crime sistematizado: uma sacola preta recheada com porções de entorpecentes, todas já preparadas para a venda — uma típica embalagem do varejo ilegal.
A confirmação do envolvimento com o tráfico veio da própria boca do suspeito. Sem oferecer maiores resistências, ele confessou sua atuação no comércio de drogas e, num gesto raro, autorizou que os policiais se dirigissem até sua residência, localizada no bairro Loty, em Itanhaém. O que foi encontrado ali superou as expectativas até mesmo dos investigadores mais experientes.
O imóvel revelava muito mais que a intimidade de um jovem enredado no crime: ele funcionava como um pequeno centro logístico da atividade criminosa. Lá dentro, os agentes encontraram um verdadeiro arsenal químico: 498 eppendorfs de cocaína (504g), 58 porções da mesma droga (53g) e uma porção bruta de 333g da substância; além de 148 pedras de crack (46g), 196 porções de maconha (293g), 50 porções de haxixe (33g), uma porção de skunk (37g) e sete comprimidos de ecstasy (64g).
A lista de apreensões não parou nas drogas: centenas de invólucros vazios, sacos plásticos, duas balanças de precisão e uma folha com anotações financeiras deixavam claro que o tráfico não era improvisado — era uma operação estruturada. Para completar o retrato do crime, um revólver calibre .38 com numeração raspada e quatro celulares foram localizados, fechando o cerco sobre o jovem que, até então, parecia mais um entre tantos da periferia litorânea.
A ocorrência pode parecer rotineira, mas expõe com contundência a naturalização e o crescimento do tráfico de drogas em áreas urbanizadas e periféricas da Baixada Santista. Jovens recrutados, bairros transformados em corredores de distribuição, imóveis adaptados como verdadeiros bunkers do crime e, muitas vezes, uma sensação de impunidade que persiste, mesmo diante de apreensões vultosas.
O preso foi conduzido à sede da DISE de Itanhaém, onde passou pelos trâmites legais e permanece detido, à disposição da Justiça. A expectativa é que o caso seja encaminhado à Promotoria, que poderá denunciar o acusado por tráfico de drogas, associação criminosa e posse ilegal de arma de fogo com numeração suprimida — crimes que, somados, podem resultar em pena superior a 20 anos de reclusão.
Enquanto isso, a realidade do bairro segue: entre ruas de areia batida, comércios humildes e crianças jogando bola, a presença do tráfico permanece como uma sombra silenciosa. E a prisão de um jovem, por mais relevante que seja, representa apenas a ponta visível de um iceberg que ameaça corroer a estrutura social de regiões cada vez mais dominadas por organizações clandestinas.
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