Audiência pública definirá hoje, segunda-feira (14), o destino do estádio; moradores temem colapso viário, perda de sossego e impactos estruturais
A emblemática Vila Belmiro, um dos bairros mais tradicionais de Santos, vive dias de tensão. O motivo? A possível aprovação da construção da nova arena do Santos Futebol Clube, que deverá substituir o atual Estádio Urbano Caldeira. A audiência pública marcada para esta segunda-feira (14), às 18h, no Salão de Mármore do próprio estádio, promete ser decisiva — e calorosa.
O encontro, promovido pela Comissão Municipal de Análise de Impacto de Vizinhança (Comaiv), apresentará ao público o Estudo de Impacto de Vizinhança (EIV) e os detalhes do projeto orçado em R$ 700 milhões, a ser executado pela construtora WTorre. A nova arena prevê a ampliação da capacidade para 30.040 torcedores, incluindo camarotes, áreas premium e estacionamento subterrâneo, mas as mudanças urbanas assustam quem vive no entorno.
Atualmente, o estádio recebe cerca de 15 mil torcedores por partida, número que já impõe desafios logísticos à região. “Imagine isso dobrado, com carros tentando acessar um estacionamento subterrâneo em uma malha viária que mal suporta o que já existe”, desabafa um morador que pediu anonimato.
Segundo um comerciante local, os receios são quanto ao descontrole urbano: flanelinhas, brigas de torcida, comércio ambulante e tumultos se intensificariam, segundo ele, com o novo empreendimento. “Se hoje a fiscalização é falha, amanhã será inexistente”, dispara.
Há ainda quem se preocupe com o que não se vê nos dias de jogo. O barulho da desmontagem de estruturas, que muitas vezes se estende até as 4h da madrugada, pode se tornar rotina com a realização de shows e eventos. “A proposta inclui trazer grandes atrações para a arena. Mas e o silêncio que caracteriza nosso bairro, como fica?”, questiona outro morador.
Além do impacto no cotidiano, há temores quanto à própria fase de obras. A circulação de caminhões pesados, a vibração provocada por equipamentos como bate-estacas e possíveis danos a imóveis antigos foram pontos levantados durante reuniões de moradores em grupos de WhatsApp.
Diante do cenário, uma das medidas já antecipadas pelos residentes é a formação de um grupo de gestão comunitária para acompanhar desde o início das obras até a operação da nova arena. O objetivo é garantir que promessas de segurança e organização não fiquem apenas no papel.
A audiência desta segunda-feira marca a última etapa de consulta popular antes da decisão da Prefeitura de Santos sobre a aprovação ou não do projeto. Caso o EIV receba parecer favorável da Comaiv, o projeto segue para licenciamento e emissão do alvará de construção.
Entre a paixão pelo futebol e o temor por um futuro caótico, a Vila Belmiro se encontra em xeque. A modernização pode vir — mas o preço a pagar, segundo os moradores, talvez vá muito além do que o Santos Futebol Clube imagina.
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