Viúva de chefão do crime é suspeita de mandar matar ex-genro em Ubatuba; investigação revela rede de empresas de fachada e acerto de contas milionário
![]() |
Momento da fuga em lancha pelos mares de Ubatuba, logo após a execução de Klaus “Pepão”; embarcação era conduzida por cúmplice do atirador. Foto: Reprodução/Câmeras de segurança. |
Em um roteiro que mais se assemelha a um thriller policial, a cidade de Ubatuba foi palco de uma execução a sangue frio que escancarou a guerra silenciosa travada por bastidores do jogo do bicho. No centro do enredo, figuras conhecidas da contravenção penal no litoral paulista, com histórico de prisões, lavagem de dinheiro e negócios de fachada, disputando um império subterrâneo de apostas ilegais.
Na tarde de 3 de julho, Klaus Viana Munch, conhecido como Pepão — condenado por organização criminosa e lavagem de dinheiro — foi executado com ao menos cinco disparos nas costas, no andar superior de uma galeria comercial no bairro Itaguá. O assassino, com frieza calculada, sacou uma pistola ainda do alto de uma moto vermelha estacionada na Avenida Leovigildo Dias Vieira, entrou na galeria, realizou o crime e correu em disparada para uma lancha, que o aguardava com motor ligado. A embarcação, conduzida por Douglas de Oliveira, partiu imediatamente, em fuga cinematográfica pelas águas de Ubatuba.
Douglas, dono da lancha e cúmplice do atirador, foi o primeiro a cair. Preso no dia 11, ele foi rastreado após a polícia identificar um depósito de R$ 3 mil em sua conta bancária, feito no dia seguinte ao assassinato. A origem do valor levou os investigadores até Lucile Andrade Nascimento Couto, de 51 anos, empresária de fachada e, segundo a Polícia Civil, mandante do homicídio.
Lucile, viúva de Moacir Ribeiro Couto — apontado como patriarca de um poderoso clã de contraventores — está foragida desde a mesma data da prisão de Douglas. A transferência bancária partiu de uma das empresas registradas em seu nome, o que a colocou no epicentro da apuração. O valor total acertado para a execução, segundo os investigadores, teria sido de R$ 30 mil.
A motivação para o crime, segundo a Delegacia Seccional de São Sebastião, foi a guerra silenciosa pelo controle da exploração do jogo do bicho em Ubatuba. Após o fim do casamento entre Pepão e a filha de Moacir, há cerca de cinco anos, a sociedade entre ex-genro e sogra se dissolveu, mas ambos continuaram atuando no submundo das apostas. O rompimento abriu uma fissura no clã, transformando antigos aliados em rivais.
Lucile, assim como Pepão, se apresenta como empresária formal, com empresas registradas em diversos ramos: imóveis, títulos de capitalização e até criação de animais. Mas, para a polícia, trata-se de uma rede de fachada usada para lavar os lucros da contravenção. As investigações ainda apontam outros dois envolvidos no crime, que seguem em liberdade.
Pepão, por sua vez, não negava sua ligação com o jogo do bicho. Em documentos judiciais, reconheceu sua atuação no setor e já havia sido condenado a dez anos de prisão no ano passado. A pena, no entanto, ainda aguardava julgamento em segunda instância, o que lhe permitia aguardar o recurso em liberdade. Sua morte, com características típicas de acerto de contas, coloca em evidência o submundo de crimes estruturados por trás de fachadas empresariais e conflitos familiares que se transformam em guerra.
Com a principal suspeita foragida e outros executores ainda em liberdade, o caso segue em investigação. Enquanto isso, Ubatuba, conhecida por suas belas praias e turismo tranquilo, torna-se palco de mais um capítulo da histórica relação entre a contravenção e a impunidade.
0 Comentários